Por Tatuador pernambucano especialista em tatuagens para pele negra atende cinco estados brasileiros.
Enquanto muitos desconhecem a diferença entre as técnicas de tatuagem em diferentes cores de pele, o tatuador Fábio Lopes resolveu revolucionar uma área pouco falada ainda: a tatuagem específica para pele negra. De acordo com informações do Terra, foi durante a pandemia do Coronavírus que ele voltou a se dedicar exclusivamente aos desenhos, algo que sempre gostou de fazer, passando por alguns processos inesperados, mas que transformaram sua vida.
Na época em que voltou a desenhar, Fábio Lopes, que se considera um homem negro, passava por um interno processo de letramento racial, ou seja, uma leitura e escrita dedicada às práticas sociais, visto como um ponto de partida de uma educação antirracista. Aos poucos, o artista descobriu na tatuagem uma forma de sobrepor o racismo estrutural do mercado cultural, iniciando uma jornada inspiradora.
Estudando as técnicas de tatuagem, o pernambucano percebeu que havia encontrado apenas técnicas que levavam em conta a pele branca e ficou desconfortável com a situação. Assim, Fábio começou a estudar mais profundamente o assunto e descobriu que a pele negra precisa de técnicas diferentes da pele branca, pois o modo de cicatrização é diferente por causa da melanina. Por conta disso, Fábio Lopes decidiu que trabalharia apenas para pessoas pretas, fazendo uma arte de preto para preto, para resgatar a ancestralidade.
Aos 36 anos, o tatuador explicou ao Terra que só teve a oportunidade de se aprofundar nos estudos específicos de sua área quando já era adulto, apesar de desenhar desde os 12 anos. Foi durante a pandemia que o rapaz se viu na necessidade de arrumar uma outra fonte de renda, pesquisando sobre tatuagem e juntando um dinheiro para comprar os materiais.
O tatuador fez sua primeira tatuagem em junho de 2020, e, atualmente, após dois anos de experiência no ramo, Fábio se autointitula “tatuador nômade”, pois já atua em cinco estados brasileiros: Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Minas Gerais. No seu perfil no Instagram, o profissional já acumula 70 mil seguidores, e já se tornou uma das grandes referências de tatuagem em pele preta no país.
Compartilhando diversos rabiscos do seu trabalho na web, Fábio Lopes disse ao Terra que por trás de uma tatuagem preta há muito significado. Além disso, sobre o processo de cicatrização, o jovem explica que existe a probabilidade maior de formar um queloide. Vale lembrar que, nos povos pretos e originários, eles utilizavam a queloide para se comunicar, e a tatuagem era sem pigmento também.
Segundo o tatuador, ele quando começou a se dedicar ao trabalho de artista, rapidamente aguçou uma certa conscientização sobre a questão racial. Outra coisa importante que Fábio Lopes faz questão de se preocupar é sobre os desenhos que faz, pois, seu objetivo é fazer desenhos que falassem sobre as pessoas pretas e suas ancestralidades.
O pernambucano explica que, mesmo não sendo o pioneiro em tatuagem em pele negra, quer deixar o seu legado para aqueles que vierem depois dele. Por experiência própria, Fábio Lopes explicou que os artistas antes dele corroboraram para que ele pudesse trabalhar na área também.
Ainda conforme o Terra, o artista disse que Iansã foi um dos seus desenhos preferidos, um dos seus primeiros traços, que falam sobre umas das religiões que foram erroneamente demonizadas pelo cristianismo por muito tempo. Nas redes sociais, o perfil do tatuador mostra um pouco do seu trabalho, bem como relatos importantes sobre o poder das pessoas pretas.
“Discursos racistas que invadem e criam força quando pensava em me tatuar. Foi assim, que desde o dia que se idealizou enquanto tatuador já sabia o seu propósito: aproximar pessoas pretas da tatuagem. Hoje essa é a sua missão enquanto tatuador, comunicador e artista, fazer com que pretas e pretos se sintam representados enquanto arte, pois todo corpo é um ato político, principalmente o corpo preto tatuado.”, escreveu o artista no Instagram.
