Enquanto estudante e profissional da psicologia, sempre temos que lidar com um grande e recorrente objeto de trabalho e estudo: a ansiedade.
Mas, há um tempo, tornei-me uma observadora comum, para além de consultórios, de algo que se manifesta em minha vida pessoal também, que consiste no quão presente este transtorno está na vida das pessoas, em uma proporção e número cada vez mais significantes.
Por este motivo, o que antes era apenas um objeto de trabalho, passou a ser também uma curiosidade de vida, e, muito intrigada, comecei a refletir, com base, mas, além dos estudos teóricos e práticos. Pois, muito se fala na ansiedade, e de hipóteses que podem desencadeá-la, entretanto, pouco se faz uma correlação com as características da sociedade contemporânea.
Seria a presença maciça da tecnologia? O excesso de informação a todo tempo? A influência das redes sociais? E ainda, as pressões que a sociedade impõe? O problema é que pode ser tudo isso junto.
Sabemos que a ansiedade, em uma forma simplificada de explicação, consiste em uma preocupação com o futuro, e quando em excesso, vira um transtorno, trazendo inúmeros desconfortos e prejuízos para quem sofre do problema.
Mas, o que faz com que as pessoas sejam tão preocupadas com o futuro? E por que mesmo sabendo, que essa preocupação não faz bem, é tão difícil extingui-la de vez de seus hábitos?
Esse é o ponto. A gente sabe, e mesmo as pessoas dizendo todo tempo que devemos viver o presente, sem medo de ser feliz, essas mesmas pessoas (sociedade) exigem cada vez mais de nós, exige-se resultados, padrões, sucesso, beleza, é uma dualidade terrível para a mente humana.
O interessante é que, a partir de então, com tantas cobranças e pressões, é o próprio indivíduo que passa a exigir demasiadamente de si, sendo neste momento que o mal se instala de vez. A qualquer custo quer se encaixar nesses padrões, tenho que ser bem-sucedido, saudável, bonito, alimentar bem, mas ao mesmo tempo, “coma o que o faz feliz!”. A vida é composta por paradoxos, que deixam o sujeito sem saber o que fazer, qual caminho seguir.
Então, é neste cenário que entra a rede social, que citei como uma possível causa do aumento da ansiedade contemporânea. Tudo isso é colocado à prova nas redes sociais, hoje em dia. Isto de ter que postar e ver o que as pessoas postam todo o tempo, em uma pessoa emocionalmente frágil, pode gerar um desequilíbrio e ansiedade, pois, este hábito representa, a meu ver, uma fábrica de prazer e desprazer constante, onde os feedbacks são praticamente instantâneos.
E quando, a pessoa não tem o que a sociedade quer, ou não tem a resposta que esperava, ela se frustra e fica ensandecida em busca de tais resultados cobrados e desejados.
A tecnologia, no seu âmbito geral, fornece muitas informações, sugestões, opções, e tudo muda muito rápido, induzindo as pessoas a almejar mudar algo a todo momento.
Desta forma que percebo uma ansiedade generalizada, uma sociedade dentro de um ciclo no qual, está presa em pensamentos negativos, o que consome bastante energia, e esgota o indivíduo, de várias formas, em consequência disto, os desconfortos, são inúmeros. O número de casos mais acentuados de ansiedade, é grande, dos quais os sintomas são não apenas os psicológicos, mas também os físicos, debilitando também a saúde orgânica, diminuindo a produtividade, e trazendo, assim, problemas com autoestima e depressão.
PSICÓLOGO ANSIOSO? – Psicólogo também tem ansiedade?
Esta é uma das perguntas que mais ouço desde do início do meu processo de formação. Para começar, ansiedade é algo que todo mundo tem em algum grau, e/ou em momentos específicos da vida. “Ah, mas, psicólogo não deveria ter esse problema, pois é ele quem trata disso”. Quando ouço isso, costumo exemplificar que um médico não está isento de ter qualquer enfermidade que seja, por ser médico.
É claro que o psicólogo, tem o, posso chamar de privilégio, de saber identificar o problema de forma mais precisa, e por ter conhecimentos técnicos, sabe lidar com a ansiedade em aspecto mais ameno, mas ele não está isento de ter o transtorno, dado que, essa própria cobrança, em cima do profissional, a meu ver, acaba gerando ansiedade nele, que como todo ser humano normal, possui medos e inseguranças, e também inserido nesse meio, competitivo e que cobra perfeição em todas as áreas e aspectos.
Por isso, psicólogos têm o desafio duplo e importante de cuidar da sua própria saúde mental, para também cuidar dos outros.
E que bom que é uma profissão que está crescendo cada vez mais, em número de pessoas e também enquanto ciência eficaz no tratamento dos transtornos psicológicos, porque, na mesma proporção, coincidência ou não, está evoluindo também as mentes ansiosas e depressivas, que precisarão dos seus cuidados.
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