Desistir é um ato bravo

Desistir é um ato bravo. Tanto quanto insistir em algo. É um ato de fé. Por mais contraditório que possa parecer…

Quando uma pessoa decide desistir, ela está abrindo mão de muita coisa, para – talvez – tentar recuperar um pouco da paz perdida.

Porque as batalhas cotidianas exigem muita concentração e força e, por vezes, abalam nossas estruturas mais resistentes.

Quando uma pessoa chega a este ponto, da desistência, ela não quer mais ouvir frases de incentivo ou lições de moral. Poupe o discurso e os clichês do tipo “Tudo que vem fácil, vai fácil”, “Não se consegue nada sem esforço” e “Acredite em Deus e tenha fé”. Ela sabe que as coisas não são fáceis, pois lutou demais até chegar neste exato ponto da estrada. Ela sabe que tais lutas valeram a pena, apesar de todos os pesares, pois, sem luta, nada é conquistado e ela se orgulha das suas conquistas. E ela também acredita em Deus e tem FÉ, exatamente por isso ela decidiu ouvir os sinais universais e encerrar o capítulo; mudar o curso, deixar o barco ir, para ver onde vai dar.

Desistir requer uma coragem imensa! Só os fortes conseguem. Os fracos levam em banho-maria, colocando a culpa das suas frustrações na vida, em Deus, nos outros.

Quem desiste já insistiu muito, outrora. Já viveu por demais; já adquiriu bagagem de vida. Coisas que os covardes nunca terão.

Desistir não é dizer “Eu sou incapaz”, é dizer “Eu aceito a Tua vontade”. É ser íntegro o bastante para reconhecer os erros, para pedir perdão, se necessário, para se reinventar.

Desistir, às vezes, também é um gesto de altruísmo. Os fracos não sabem a hora de deixar um amor partir, pois eles pensam neles, em primeiro lugar.

Desistir é saber a hora de sair de cena e fechar as cortinas.

Desistir também pode ser um ato de amor-próprio.

Desistir nem sempre é tolice; pode ser um elevado grau de sabedoria.

Não diga a alguém que está demasiado cansado “Olhe para mim! Olhe quanto eu batalhei e onde eu cheguei”, pois cada um percorre a sua estrada de um jeito e celebra suas vitórias e suas derrotas de uma forma muito particular. O que é sucesso para uns, pode não ser para outros. O que foi fácil e glorioso para uns, pode ser o fardo e martírio de outros tantos.

A melhor coisa a se fazer por alguém que decidiu que é hora de parar, é estar junto. Não é falar “Vamos, levante-se, você precisa ser forte!”, mas sim “Vamos, pode chorar, eu estou aqui”.

Ver seu mundo desmoronando e não poder fazer nada é uma das piores sensações da vida, mas saber que temos quem nos tire dos escombros e nos ajude a limpar a poeira, é maravilhoso!

O amor não se trata de levantar o outro e puxá-lo pelas mãos a todo momento. O amor genuíno trata-se, também, da capacidade de permanecer em silêncio e descer até o fundo do poço, apenas para fazer companhia ao parceiro (a), para ele sentir que não está só.

Desistir é velar sonhos que já estavam fracos e morreram de falência múltipla. Respeite o luto. E principalmente, o tempo.

Desistir não é, necessariamente, o fim. Certas vezes, trata-se de um recomeço…

Desistir também é entender que tudo nessa vida tem um ciclo próprio. Árvores não podem segurar suas folhas secas, por mais que quisessem. O Sol não desiste de brilhar para sempre quando as nuvens de chuva chegam ou quando o Inverno vem, ele sabe que logo mais chegará um outro verão.

Desistir não é motivo para se envergonhar. Quem desiste agora é porque decidiu enfrentar, lá atrás. E não é todo mundo que tem essa disposição.

Desistir implica em recolher seus cacos, recolher-se e fazer a pesagem da vida na balança.

Desistir é escolher outro caminho. Mesmo que sem querer. Pois sempre que escolhemos uma estrada, outras, naturalmente, ficam para trás. Logo, desistir é um ato legítimo e natural. Faz parte da vida.

Às vezes, desistir, é uma prova de amor. Todo mundo está desistindo de algo, a todo momento. Seja do sonho da vida, do amor da vida, do trabalho ideal. Não desistimos só do que nos faz mal, desistimos também em prol de outrem e para o bem geral da nação.

Desistir é soltar o cabo de aço que já fazia sangrar a mão. É tentar estancar as feridas do coração. É aceitar os limites impostos pela alma.

Quem desiste, persiste que o outro caminho será melhor. Seja ele qual for.

Desistir é não se acomodar na zona de conforto, contrariando o que muita gente pensa. Acomodar-se é não tomar atitude alguma. É permanecer inerte à Vida. E os desistentes, tomaram uma decisão. Pois negar-se a algo já é uma atitude.

Se você está desistindo de alguma coisa nesse momento, seja complacente consigo. Não se sinta um perdedor. Nem sempre vence aquele que chega primeiro, mas sim, aquele que atinge o objetivo com verdadeira alegria e qualidade. E às vezes, a insistência não vale o preço exigido. Dê-se trégua.

Várias coisas precisam morrer para outras novas nascerem. Assim também é a esperança. Às vezes, nós nos perdemos da Fé, da esperança, de nós mesmos. Mas a nossa natureza é mutável, por isso sobrevivemos aos drásticos invernos da vida.

Não dá para pular as estações e a alma também tem seus ciclos. Deixe suas folhas secas caírem, isso não quer dizer que você nunca mais viverá um lindo verão.

Solte mão do que não vem a você espontaneamente. Lembre-se, a sua alma é primavera. Logo você voltará a florir.


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Bruna Stamato
"Escritora. Autora do livro "Nunca quis um marido sempre quis um companheiro". Mãe. Mulher. Geminiana e uma eterna sonhadora." Siga-a em: @brunastamato - E-mail: [email protected]

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