Ou a gente encara e enfrenta, ou vai protelando. Vai se adiando e jogando tudo para debaixo do tapete. Vai acumulando tudo até virar um acumulador compulsivo de emoções.
Aí a gente enche a casa, espalha tudo, anda por cima, procura o que não acha, vive em meio à sujeira que poderia ser limpa e dá um milhão de desculpas dizendo que mesmo assim está tudo bem.
Aí a gente percebe que precisa de ajuda, precisa dar um jeito antes que a vida adoeça, antes que nossa casa desmorone e seja infestada por roedores internos.
Ou a gente enfrenta e dá a cara para bater, ou disfarça até não poder mais.
Até o momento em que nos damos conta de que não temos mais nada a não ser um monte de sentimentos amontoados e um coração sem perspectiva de vida.
É preciso cuidar da limpeza da alma, afastar os fantasmas que assombram e partir para a briga, defendendo-se de qualquer mal que assola o espírito.
Onde existir fé e esperança, onde existir gente disposta a nos segurar e amenizar nossas dores, haverá sempre saída.
Ou a gente empurra com a barriga ou surta, sem saber para onde ir. Não sei o que é pior.
É preciso fazer por nós o que ninguém consegue. Só nós mesmos temos que buscar condições de tentar, mesmo que tudo venha à tona e extravase nosso ser.
Precisamos nos ouvir, precisamos parar de nos agredir. Quando a doença da alma assola, levantar-se fica cada dia mais difícil.
Buscar no impulso do coração a sensação de que ainda dá para voar e ir mais além, pode nos confortar, pode nos levar a lugares antes nunca sentidos e vividos.
Agora, carregando coisas desnecessárias, carregando mágoa e excesso de amargura, só nos impedirá de alçarmos nossos voos, completamente desapegados e livres.
É preciso coragem para muitas coisas. É preciso distanciar-se de todas as ausências que não preenchem. É preciso captar a própria energia salutar e agradecer à vida.
Desacumular, elevar, progredir. É preciso manter a alma mais serena e a casa interna mais limpa.
Só assim o caminho se abre. Só assim a gente aprende a ser mais feliz.
Sil Guidorizzi
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