Gostaria de deixar você entrar, mesmo com dúvidas e inseguranças, ainda fiz seu chá de maracujá e deixei passando aquela comédia brasileira que você estranhamente não se cansa de assistir…
A porta não está trancada, é só esse vento frio que vem e deixa minha sala, de cores quentes, tão fria. É quase outono, chega a hora de deixar algo para trás e que algo mais bonito possa vir, mas o meu apego pelo verão é difícil deixar ir.
No verão nós sorrimos e nos deixamos ao sol como se nada mais importasse, mesmo com toda sua ansiedade de “mas e depois?”, mesmo com meu “não se preocupe com isso”, mesmo com todas as contradições, era seu o abraço que me aquecia mais que o próprio sol.
Eu sei, foram tempos de várias estações, de correr contra as horas do dia a dia e nossas idas e vindas, todas tolas e desproporcionais ao que sentíamos. Por que fazemos isso?
Por que uma estação tem que terminar para que outra comece? Por que não superam suas diferenças, porque não superamos as nossas?
Eu gostaria de deixar você entrar, chamá-lo para o nosso café na padaria da esquina entre meu trabalho e o seu, e voltar com uma flor atrás da orelha para aliviar um dia corrido, depois terminar a tarde no banco da praça, assistindo aquela combinação improvável de contrabaixo e violoncelo, que estranhamente são perfeitos juntos, quase uma ironia a nós.
Sabe, eu não tranquei as portas, a fresta de luz que vaza no chão, dá a mim a esperança da silhueta que está por entrar. Não sei se a sua, mas espero que me tire para dançar, sem que haja música tocando e que me conte piadas, mesmo que das piores possíveis, só para me fazer rir fora de hora.
Talvez me leve para passear junto com os dias que correm e não sente ao meu lado esperando o dia correr.
Talvez longe dos padrões só para agradar, alguém de verdade que duvide de tudo, mas não de onde quer ficar. Talvez!
Gostaria de deixar você entrar, mesmo com dúvidas e inseguranças, ainda fiz seu chá de maracujá e deixei passando aquela comédia brasileira que você estranhamente não se cansa de assistir, mas o chá já está esfriando e o filme no fim. Dia desses me pediram um chá diferente, daqueles mais fortes, com hortelã e menta e eu não sabia bem como preparar. Será que eu deixo entrar?
Entre uma tarde cansativa e uma noite divertida, entre uma bronca no trabalho e uma notícia boa para comemorar, a silhueta foi tomando cor a cada dia em que o chá de maracujá esfriava e meu chá de hortelã e menta foi ficando cada vez melhor. Minhas risadas foram pegando o ritmo da sua toda espalhafatosa, minhas piadas ficaram ruins, o pen drive do meu carro se encheu de música para quando eu não podia dançar. Meu peito suspirou de alívio!
A porta ainda não está trancada, agora sei fazer dois chás, mas, sabe, eu gosto dele quente, não espere esfriar. Eu o deixei entrar.
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