No ambiente corporativo estamos acostumados a ouvir cada vez mais sobre motivação, superação, design thinking , inteligência emocional, mas pouco ou nada se fala sobre a inveja.

Há 20 anos atrás tive a oportunidade de visitar uma  importante  associação de uma cidade, cuja região crescia a passos largos, e  o presidente me disse que o segredo do crescimento era a inveja.

Ao ver em meu rosto a perplexidade de quem realmente não estava entendendo nada, fez questão de explicar com detalhes:

“Aqui funciona assim: se eu vi na garagem do meu vizinho um carro novo e melhor que o meu, eu vou trabalhar mais ainda porque eu quero ter um carro melhor que o dele. Se a gente sabe que o colega foi promovido, fico tão incomodado que faço de tudo para que eu também receba a promoção; se a cidade aqui ao lado fez uma feira que teve grande projeção na mídia, nós nos reunimos imediatamente para que a nossa cidade faça uma ainda melhor”.

Nunca esqueci essa experiência. Se perguntasse neste momento se nos últimos trinta dias você presenciou alguma situação de inveja no seu ambiente de trabalho, certamente, a grande maioria responderia que sim.

Invidia na mitologia romana era o senso da inveja ou ciúme, e usavam este termo para indignação em sucesso desmerecido e para inveja, um dos sete pecados capitais.

Significa, na origem etimológica do latim invidere, olhar maliciosamente, de soslaio, de canto de olho.

O invejoso não apenas quer o que é de outrem, mas ocupa-se em destruir o que não pode ter, normalmente através das palavras, que inicia com ridicularizar o que invejam, depois critica de forma maliciosa, com comentários dissimulados que mostram insinuações para semear a dúvida, sem se posicionar diretamente. Ele sempre tem uma fonte segura que não pode dizer qual é, e que, não raro, esconde qualquer possibilidade de comprovação do que está destruindo com suas palavras.

Este comportamento faz aliança com ambições de outras pessoas também insatisfeitas e frustradas com seus resultados, e seduz alfinetando quem não está ali para contrapor. Nunca confessará sua atitude, e se pego em flagrante responderá que só estava querendo ajudar, vai punir severamente quem o denunciou, e vai bajular e se fingir amigo preocupado, mas criticar na primeira oportunidade, fazendo sempre jogo duplo.

Quando o invejoso cutuca com suas bajulações, elogia e dá uma espetadinha: “Nossa, como você emagreceu!”

“Que bom, pois você perdeu ótimas oportunidades aqui na empresa pelo preconceito”  ( dos outros , nunca dele ) …” Parabéns pela promoção, todo mundo aqui ficou surpreso , nunca alguém achou que você conseguiria!  ” ou ainda ” É uma época de tantas demissões, você tem de se sentir feliz por ainda estar aqui empregado!” (afinal, você nem é tão capaz assim…) . Ainda tem a a capacidade de curtir todas as postagens na mídia e falar aos quatro ventos o quão ridículo achou aquele post. Mas, curtiu.

O invejoso se acha justo dizendo a si mesmo que apenas está tendo a coragem de falar a realidade, entende que está apenas se posicionando (quando, na verdade, está fazendo fofoca) que está olhando para o bem da empresa quando está puxando o tapete dos outros fazendo intrigas e destruindo as pessoas. Que inveja!

Quando você faz de conta que não percebe isso, ou que não é com você, deixa de entender que todo invejoso é um ressentido que se sente inferior em alguma parte de sua vida, comparado ao outro, e que, portanto, sente outra vez toda aquela raiva a cada vez que vê, convive ou escuta um elogio sobre o objeto de sua inveja.

No fundo, o invejoso se acha o máximo apenas na superfície, pois como não consegue reconhecer as suas lacunas, dificuldades e erros, nem se questiona sobre eles, apenas disfarça sua falta de autoestima e frustração, fazendo de conta que é o maioral, cada vez mais rancoroso com quem faz o que ele próprio gostaria de fazer e não se sente em condições, seja um cargo, uma experiência, uma família, um amor, um bem material , um corpo definido, uma pessoa com muita luz, ou que é popular, ou recebe muitos elogios.

O invejoso está na nossa família, no grupo de amigos, no ambiente de trabalho, no facebook, Instagram, Periscope e LinkedIn. Está em todos os lugares onde estamos todos nós, ora bolas!

Quando você faz de conta que não percebe isso, deixa de refletir sobre seu próprio sentimento ao se deparar com suas frustrações e com as imagens do facebook alheio, ou com as experiências que o seu colega está vivendo, e perde a oportunidade de NÃO se tornar também um invejoso.

Afinal, se você faz de conta que não percebe isso, poderá rapidamente sentir inveja, corroendo-se por dentro e imputando ao outro as justificativas pelo seu descontentamento com a vida!

Quando você faz de conta que não percebe isso, torna-se um bom ouvinte para as insinuações e críticas dissimuladas do invejoso, para as cutucadas sutis após os elogios e ainda concorda e dá mais projeção ao comportamento ruim que contamina pessoas, famílias e empresas.

E você faz parte disso, você é a sua família, e sua empresa!

Cuidado! Quando você faz de conta que não percebe isso, pode estar repetindo esse comportamento que apenas destrói e em nada contribui para um ambiente de criatividade, superações, energia positiva e alegria em trabalhar junto.

Estar atento, não ser um depositário das intrigas do invejoso, não julgar o outro e se preocupar com aquilo que lhe pertence, buscando reconhecer, elogiar, modelar e fazer diferente, experimentar-se onde mais teme, contrapor as críticas questionando quais os talentos, potencializando sua própria autoestima, conhecer-se mais, usar todos os recursos para ser, a cada dia que passa, melhor, será um antídoto para não ser e não ter invejosos por perto.

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Direitos autorais da imagem de capa: antonioguillem / 123RF Imagens

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Inês Flores
Atua com Atendimentos Individuais de Coaching ajudando pessoas a aumento de performance no equilíbrio de todas as áreas de sua vida e felicidade no trabalho. Para equipes, o aumento de performance e superação em suas metas, descobrindo como atingir os objetivos construindo e mantendo felicidade em todas as áreas de sua vida.

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