Num dos infindos diálogos que tenho comigo mesma, um dia pensei: muitas pessoas me querem mudar.
Expresso descontentamento por esta atitude, respondendo que eu sou assim porque acho que é a maneira certa de agir, neste momento da minha vida. A conversa é mais ou menos assim: –
Cláudia, podias ter feito daquela maneira quando aconteceu aquilo. – Porquê? – É o que eu acho, tu poderias ser melhor. – Mas se eu fiz daquela maneira foi porque achei que era o que me fazia sentir melhor na altura. – Mas o que fazes na vida a maior parte das vezes envolve fazer coisas que não gostas. – Eu não acho isso. E a partir dessa afirmação curta e direta, dou perfeitamente a entender que não concordo com aquela pessoa. Na minha cabeça passam coisas como: “quem me dera que x me entendesse e se sentisse feliz com quem é. Assim as nossas conversas eram muito mais inspiradoras.”
Mas…espera aí, se eu sinto que a pessoa deveria ser diferente, e que a maneira como me sinto nas nossas interações depende dela, eu estou a fazer exatamente igual a ela: estou a exigir uma mudança de comportamento!
Estou no círculo vicioso de me deixar influenciar e dizer que a outra pessoa não se deveria deixar influenciar. Estou a controlar e a pedir para não ser controlada. Parece confuso, eu sei. Mas faz muito sentido. Isto porque todas as pessoas fazem isso. Elas falam com os outros como se estivessem a falar com elas mesmas! No outro dia li uma frase brilhante.
Era algo assim: “Todos os conselhos são autobiográficos. Quando falam contigo é como se estivessem a falar com eles mesmos no passado.” É um hábito humano! É um vício interessante e que vale a pena notar. Para pessoas que odeiam ouvir conselhos, é a pior coisa do Mundo alguém que amamos nos dizer mil vezes alguma coisa que nós sabemos que ela fez…ou não fez. Os nossos pais viveram vidas COMPLETAMENTE diferentes das nossas, e os conselhos que nos dão refletem as experiências que eles viveram, pelas emoções fortes que lhes despertaram. Especialmente se ainda sentirem um agudo arrependimento por uma experiência do seu passado, aconselham-nos vivamente a evitar essa experiência, com todas as forças que têm…porque são nossos pais.
Querem-nos bem, amam-nos, mas não se devem esquecer que todos somos imperfeitos, e é a imperfeição que nos torna o que somos, e nos catapulta a mudanças incríveis e entusiasmantes.
Quando largamos os nossos medos e arrependimentos, podemos dar conselhos que realmente valem a pena. Podemos incentivar a pessoa a melhorar, a arriscar, mas sobretudo a ir com o fluir dos acontecimentos das coisas, porque quer seja certo ou errado para nós, para ela era o que parecia melhor, e o que quer que aconteça, tudo vai correr bem. Ou vences ou aprendes. Não existe derrota, a vida continua.
Mas não são só os nossos pais que têm vidas completamente diferentes das nossas. Toda a gente é única. Com toda a nossa complexidade, mente e personalidade, somos uma teia de elementos que nos compõe.
Porém, tu não és diferente da outra pessoa por causa de quem és ou do teu passado: mas por causa da maneira como te sentes de momento a momento. Por isso, um lembrete mental para vocês e para mim: quando alguém me tenta mudar porque acha que os faria sentir melhor se eu fosse diferente, eu digo “obrigada!” E sinto-me lisonjeada porque me relembro do quão única sou, e da importância de eu decidir como ser daqui para a frente, para eu me agradar.
Ser como sou agora agrada-me? Se sim, siga em frente.
Cláudia Rocha