“No meio do inverno aprendi, finalmente, que havia em mim um verão invencível.”


Não tenha medo de sangrar, se isso vai trazer à tona um você que é mais você do que aquele que o encara no espelho todos os dias.
Um dos livros que mais tem me dado prazer de ler é “Mulheres que correm com os lobos”, da psicanalista junguiana Clarissa Pinkola Estés. Eu o leio aos poucos, absorvendo cada história e seu significado, em doses homeopáticas.
Acredito que seja um livro para se ler assim, pois as informações contidas, combinando mitos e histórias com análises de arquétipos e comentários psicanalíticos, têm que ser elaboradas com cuidado, já que significam um mergulho profundo na natureza feminina.
Um dos trechos do livro que me causaram grande empatia foi: “Chegar ao fundo do poço, embora extremamente doloroso, é chegar ao terreno de semeadura.”
Que ninguém quer sentir dor, principalmente emocional, todo mundo sabe. Mas também é consenso que ninguém estará imune à dor, sobretudo emocional.
Cedo ou tarde, experimentaremos o que significa estar à flor da pele, completamente vulneráveis e totalmente despidos de qualquer armadura que nos proteja da existência e suas desventuras.
Mas há alguém dentro de você que você ainda não conhece, e não é conseguindo todos os likes que almeja ou adquirindo todos os bens que deseja, ou sendo completamente realizado na vida pessoal e profissional que você acessará essa pessoa escondida em seu corpo que tem tanto a lhe dizer. É na dor, no caos, na infinita tristeza que você encontrará a raiz da sua psique, o terreno da sua semeadura.
Deixe chegar a dor. Deixe entrar. Deixe-a lhe mostrar o que uma alma desprotegida é capaz de ensinar. Deixe expor. Deixe desnudar. Não tenha medo de sangrar, se isso vai trazer à tona um você que é mais você do que aquele que o encara no espelho todos os dias. Não tenha medo de desbastar a ferida, se é para a cura vir em seguida.
Por fim me lembro da rosa e da contradição que ela encerra. No encontro perfeito entre o encanto e a ferida. No pacto de dor que há por trás da beleza e na promessa de bonança que existe encoberta por cada espinho.
Tão contraditórios quanto a rosa são a vida e o amor. Às vezes, o amor machuca, mas ele não deixa de ser amor por isso.
E, parafraseando Albert Camus, no fim de nossa jornada de beleza e espinhos, talvez um dia possamos reconhecer que “no meio do inverno aprendi, finalmente, que havia em mim um verão invencível”.
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