De repente a vida… – pensando que já tenho 27 anos, que ontem tinha 10, e que minha vida não chegou nem na metade do que achei de onde estaria quando chegasse nessa idade.
Estou pensando em quantos pedidos eu fiz, pois dizem que nessa época do ano tudo se realiza: Eu cansei de assoprar velinhas, fechando meus olhos e pedindo a mesma coisa: um fígado mais ou menos, e que todo aquele sofrimento e intimidade hospitalar não me deixasse sequelas. Eu pedi um fígado novo, e continuo aqui com o mesmo ferrado de sempre, cada vez mais ferrado por sinal. E quanto às sequelas, percebi que é quase impossível ganhar um CID sem ganhá-las também. O mal dos momentos ruins, é que sempre queremos esquecer, mas já foi vivido, faz parte de você, então,aceite e aprenda.
Nada é por acaso é uma das frases mais sábias: acredite, depressão é o mal do século, por que nos perdemos de nós mesmos.
E sim, dói, se perda na china, mas não se perca em sua mente, achar o caminho de volta exige trabalho, dedicação e é dolorido. Nunca em sua vida julgue alguém com depressão, pois sua luta é uma das maiores que existem: com elas mesmas. Por vezes as pessoas julgam, mas eu falo: pessoas em depressão são ótimos atores, são capazes de sorrir despedaçadas Nem tudo é o que parece.
Quando me toquei disso tudo, eu percebi que não tinha o fígado novo. A minha vida era exatamente ao contrário do que tinha imaginado até mesmo do que queria, por algum motivo eu estava fora de rota, não conseguia ir à luta, então tive a certeza: estava perdida.
É claro que colocaram a culpa no meu emprego, no me estado civil, e os “doutores” não graduados me deram 350 diagnósticos, apontaram meus erros, viram um por um, mas não me viram, não me perguntaram porque, e então eu vi mais uma coisa: eu estava sozinha, em uma guerra solitária, onde meu adversário era o único participante: eu. Uma guerra onde não tinha forças para lutar, a arena estava cheia de pessoas que gritavam,meus erros, controlavam meus passos, julgavam-me porque eu não era quem esperavam que eu fosse. Eu não conseguia nem ser o que eu queria, quanto mais o que você queria.
Eu parei de fazer o que os outros esperavam, e é claro que eles se espantavam, afastaram-se, mas continuavam não perguntando como eu estava e sim por que não era mais aquela boba de sempre. As pessoas foram se afastando eu fui me afastando, só tinha eu, o silêncio e as pessoas que não desistiram de mim.
Então me vi sozinha, comigo mesma e antes as pessoas que pediram por briga foram trocadas por pessoas que clamavam por Vitória. O céu foi ganhando cor novamente, e eu não estava mais sozinha. Aconteceu! O eu ganhou e me derrotou. Derrotou aquela menina que não lutava mais por seus sonhos, ele conseguiu sair do mais profundo labirinto Do qual tinha sido trancado.
Por isso a depressão dói tanto, pois é o seu eu verdadeiro saindo de dentro do eu fantasioso, essa pessoa que por algum momento perdeu a alegria e o brilho dos olhos. E só tem um jeito de sair : na garra, na força com sangue e cicatriz.
Então eu cansei, não dos pedidos, mas da forma que os fazia, passei a desejar apenas ser sempre eu mesma, muita fé na vida! Tudo bem que, às vezes, muitas vezes, quase sempre, eu quebro a cara, mas aprendi a lidar com esse coração quente que transpira pelos olhos. Sei que alguns vão pensar: mais ela é tão fria, porém, é só uma armadura diária , com tantos equivocados soltos no mundo, não se tem como sair pelo mundo de peito aberto gritando: ”olha como sou sentimental “.
Peço que esse jeito leve , de brincar ao levar a vida permaneça, pois já tive a certeza que quando ele morrer, eu vou junto. E que esse novo eu que nasce, esse novo ciclo que se inicia, seja realmente de coisas novas, de coisas boas, que algumas coisas velhas não mudem , e consiga colocar em prática o lado básico da vida. Porque, sabe, a vida é igual matemática: aprende-se muito, mas usa-se pouco, por vezes, só o básico: amor, perdão, caridade, é isso que importa na vida, e claro…. ser você: com seus erros, acertos, voz escandalosa com um toque infantil , tatuagem no corpo, e fingindo que está indo malhar….
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