É impressionante como a maioria de nós tende a ser muito mal-agradecido em relação à vida que temos e que é quase sempre construída, unicamente, por nós mesmos.

Quando tudo está sob controle, dentro de uma tranquilidade possível, visto que tranquilidade absoluta é utopia, tendemos a dar importância para coisas que nem notaríamos se estivéssemos ocupados ou preocupados com assuntos mais importantes.

Isso vale para absolutamente tudo!

Nas questões profissionais, se estamos trabalhando já há algum tempo no mesmo emprego, reclamamos da rotina, da convivência com os colegas, de ter que acordar cedo, de não ganhar o desejado. Dificilmente refletimos sobre ter uma tolerância mais elástica, sermos mais pacientes, fazer vistas grossas para coisas que não acrescentam nada, mas ao contrário, ingratos que somos, reclamamos, é o que sabemos fazer de melhor.

No entanto, quando se está sem trabalho, empenhados em mandar centenas de currículos sem que venha uma resposta sequer, nós nos esquecemos de todo aquele comportamento adotado enquanto empregados para nos preocupar com algo maior: a falta do emprego. Muitas vezes, ao passar por esses momentos, chegamos a nos sentir culpados por ter  tão pouca paciência, não valorizando devidamente aquilo que tínhamos e os problemas dos quais costumávamos reclamar, passam a ser insignificantes diante da nova situação.

Nos relacionamentos familiares, costumamos reclamar de bobagens como o copo que ficou sobre a pia, do filho que vê TV até tarde, do companheiro que não limpou os pés para entrar, e de tantas outras coisas que poderiam perfeitamente ser ignoradas, mas porque não temos nada mais sério para nos apegar, implicamos assim mesmo com tolices e picuinhas.

Aí, de repente, ocorre que alguém adoece; é quando vem a verdadeira preocupação. O que será que é? Ficará bom logo? Será algo sério?

Já não importa o copo, a TV ligada, o pé sujo que outrora fez com que deixássemos de viver momentos mais harmônicos e serenos, junto a nossa família, por ficarmos presos à pequenez da ingratidão.

Nos relacionamentos afetivos, muitas vezes reclamamos do modo como o outro se veste, criticamos suas preferências que, na verdade, não muda em nada o seu caráter, o que de fato  deveria ser valorizado, e afetados pela futilidade e ingratidão, deixamos de ver a pessoa que está a nosso lado  e no dia que este cansa, ou que por qualquer razão se afasta, refletiremos no quando fomos imaturos, ingratos não sabendo valorizar a essência , ficando presos à superfície das coisas.

Todos nós, por exemplo, nunca pensamos no fato de podermos caminhar, pois é uma coisa corriqueira, que já fazemos mecânica e instintivamente, nem ligamos para isso, quase nem percebemos que o fazemos, mas o dia em que quebramos a perna é que vamos lembrar a importância de poder andar. Claro que sim, é importante, mas quantas vezes até não podermos fazê-lo, esquecemos de valorizar esta capacidade?

Tem-se a impressão de que o ser humano é ingrato por natureza.

Às vezes, temos tudo, boa moradia, automóvel novo, bom emprego, amigos, nem nos damos conta disso, visto que, por estar à mão, não haver carência, surgirá uma nova razão para exalar insatisfação, seja, por exemplo, não estando contentes com a própria forma física, ainda que seja uma preocupação descabida, ou não dando valor ao que já possuímos; queremos uma casa melhor, um carro mais moderno e não olhamos para o que conquistamos tampouco somos gratos à vida pelo que tivemos a oportunidade de conseguir.

Não se trata ser conformado, resignado em situações que não nos fazem felizes, mas de aprender a notar e estar atento às coisas simples, para as quais não damos a menor atenção, pelo fato de estarem à disposição, sendo necessário, muitas vezes, passar por perdas, ou adversidades para reconhecer o que possuíamos e que se perdeu, ou seja, valorizar o que não se tem mais e que não era valorizado quando se tinha.

Penso que precisamos levar nosso dia a dia com mais leveza, ir com calma para ter tempo de avaliar tudo que temos, aquietar os pensamentos, para notar como a vida nos gratifica todos os dias com a saúde, com o trabalho que nos cabe, com a família que a vida nos deu, não sem razão.

Normalmente temos muito mais a agradecer do que o fazemos. Temos muito mais a agradecer do que percebemos. E por que não dizer, pela conduta ingrata, há muito mais para agradecer do que merecemos.

Parece-me que estamos sempre querendo o que não temos e o que temos nunca nos satisfaz.

Deveríamos tornar os momentos de paz muito mais presentes, esquecer as bobagens, as irrelevâncias e dar valor aquilo que de fato deve ser valorizado.

Quando valorizamos, nós nos tornamos gratos, e quando somos gratos, a serenidade brota de nossas almas e a vida fica mais leve, mais branda.

Por que temos que ser densos e pesados? Azedos, mal-humorados, vivendo a murmurar pelos cantos nossa ingratidão. Por que ao invés de fazermos de nossa vida um aprendizado, preferimos fazer dela um sofrimento?

Os benefícios dos quais gozamos, sejam emocionais, materiais, devem ser recebidos com gratidão e não ignorados, tratados com indiferença.

Façamos bom proveito de todas as benesses que recebemos da vida, reconhecendo o seu valor.

Não há dúvidas de que, quanto mais gratos formos, mais felizes seremos, isso demonstrará que estamos sabendo aproveitar e valorizar o que a vida nos oferece, por mais simples que seja.

A gratidão traz alívio e bom ânimo para seguirmos adiante. Quando somos gratos, somos mais fortes.

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Direitos autorais da imagem de capa: victorias / 123RF Imagens

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Helena Fernandes
Sempre gostei da leitura. Quando criança, bem novinha, assim que alfabetizada, andava pra lá e pra cá com os livros de “Língua Pátria” dos meus irmãos mais velhos e adorava ler os trechos dos clássicos da literatura nacional, bem como os poemas de autores celebres, até de decorá-los, de tão lindos que os achava. Escrever é compreender se!

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