um dia

Um dia as pessoas não serão mais as mesmas, sobrará espaço na mesa, na sala, no quarto, na vida. Vão desocupar o nosso coração como quem desiste do que um dia serviu e vestiu-lhes de modo apropriado para a ocasião.

Mas é isso. Pessoas, por vezes, vão nos trair, e nem serão assim tão amigas o quanto diziam. Dirão que somos mal-amados (as), na hora da raiva, hão de nos ferir com palavras e dirão que não tivemos capacidade de lutar por aquilo que era preciso.

O coração sentirá um desconforto, rondará os espaços, tentará se ambientar ao que já não existe mais.

A vida nos ensina trajetos, escolhas, oportunidades, nos ensina a amar, a perdoar a esquecer, a deixar ir.

Um dia pessoas hão de atravessar nosso caminho e ir embora, se tiverem que ir, ou ficarão pelo tempo que for. Pode ser até que elas entrem e não saiam mais do nosso lado, descansem conosco, enfrentem nossos dragões com seus aparatos de amor e fortalecimento, enviando-nos coragem e assistência emocional. Não desistirão de nós porque, de alguma forma, somos importantes, mesmo em dias tempestivos em tempos de solidão de loucura interna ou de descomprometimento com o tempo.

Um dia abriremos aquele diário e nos depararemos com aquela foto que ficou guardada por tanto tempo, como se simbolizasse o que vivemos como garantia de vida.

Mas o que fotografamos com a alma o que conseguimos sentir não se mensura. A verdade é que nossos sonhos, por vezes, se desconectam e vão atrás de outro destino, por se sentirem um pouco menosprezados pelos infortúnios, pelo desacelerar da emoção, pela vontade de traçar novos planos.

Um dia pessoas parecerão autênticas, leais, prontas para tudo. Outro dia nos olharão sem muita importância, passarão por nós sem se identificarem, sem nenhuma energia química ou atração de alma.

Pessoas vêm, pessoas vão, pessoas nos libertam ou nos dão tudo que precisamos. Muitas vezes deixamos a porta encostada, muitas vezes escancaramos nossas ideias, nossos desejos mais secretos.

Dividimos e construímos alicerces; algumas vezes dançamos, choramos, lamentamos e sofremos, como todo ser humano normal que sabe que nem tudo é tão certeiro e feito de promessas ou poesia na beira da janela. Nem tudo é um mar de rosas. Há de se imaginar que um dia pode ser brisa, outro de tempestade local.

Um dia precisamos nos acostumar e não nos acomodar achando que tudo é para sempre. Reformar a casa, arejar o quarto, jogar fora todo tipo de sentimento que esfriou é preciso para que a gente recomece de novo e de novo, seja lá o tempo que precisarmos para isso.

Um dia a gente presta mais atenção em nós mesmos e coloca os pingos nos is… e esquece aquele tempo de passado ou de ilusão… e muda o rumo das coisas, atenua outras, agradece mesmo assim, porque a vida é uma sequência de nós mesmos.

Vivemos, amamos, aprendemos. Não somos donos de ninguém.

Somos o que levamos conosco caminho afora depois de grandes aprendizados, ou pequenas conquistas. Pode ser o inverso, mas é esse o trato com Deus, com os pés que tocam o solo da vida.

Crescer, multiplicar, fortificar, reconstruir-se. Um dia tudo vai passar. É assim que eu penso. A vida precisa continuar; o coração precisa reaprender a andar. Descobri isso por mim.


Direitos autorais da imagem de capa: Jéssica Oliveira on Unsplash

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Sil Guidorizzi
Sou Paulista, descendente de Italianos. Libriana. Escritora. Cantora. Debruço-me sobre as palavras. Elas causam um efeito devastador em mim. Trazem-me â tona. Fazem-me enxergar a vida por outro prisma. Meu primeiro Livro foi lançado em Fevereiro de 2016. Amor Essência e Seus Encontros pela Editora Penalux. O prefácio foi escrito pelo Poeta e Jornalista Fernando Coelho. A orelha escrita pelo Poeta e jornalista Ivan de Almeida. O básico do viver está no simples que habita em mim.

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