Uma de minhas crônicas favoritas de todos os tempos, é a ‘Se eu fosse eu’ da Clarice Lispector.
Às vezes, eu paro tudo e reflito nessa pergunta, e confesso que dá até medo de pensar, mas, ao mesmo tempo, é triste saber que vivemos, somos e reagimos de maneira condicionada, e não de acordo com o que o nosso eu gostaria.
Sim, eu sei que soa muito filosófico, mas não podemos negar toda a verdade que existe por trás dessa pergunta, e mais ainda, por trás de todas as respostas que ela pode trazer à tona.
Se eu fosse eu, eu seria mais firme, e não teria tanto medo de magoar as pessoas; talvez assim deixaria de me magoar um pouco.
Se eu fosse eu, não perderia a oportunidade de dizer ‘eu te amo nunca, mesmo que a outra pessoa me achasse uma completa idiota.
Se eu fosse eu, eu cantaria mais alto no chuveiro, levantaria do meu assento no metrô e dançaria como se ninguém tivesse me olhando.
Se eu fosse eu, eu falaria como me sinto, sem medo de ser julgada e condenada.
Se eu fosse eu, não controlaria o choro, nem o drama, nem a birra de criança, quando algo não sai de acordo com as minhas vontades.
Se eu fosse eu, eu seria menos recatada, mais engraçada, menos alvoroçada.
Graças a Deus, eu ainda consigo ser eu, em todos os meus sorrisos, meus carinhos, meus olhares, minhas lágrimas! E como sou grata por poder ser eu em cada linha, cada ponto e cada vírgula de tudo que escrevo!
E para todas as vezes que não consigo ser eu, lamento e reforço o meu desejo de me libertar das correntes que ainda me aprisionam e me impedem de exercer minha autenticidade.
E você, como seria se fosse completamente você por um dia ?
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