Perto de completar três décadas do assassinato de Daniella Perez, Glória Perez revisita o crime, explica que não viveu o luto e lamenta mídia sensacionalista da época.

Lançado na segunda metade de julho deste ano, o documentário da HBO Max, “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez”, trouxe à tona um dos crimes mais chocantes do Brasil, que ocorreu em 1992 e envolveu uma das atrizes mais promissoras da época, Daniella Perez, filha da autora de novelas, Glória Perez.

Em entrevista à Marie Claire, a mãe da vítima explicou que Tatiana Issa foi quem a procurou com a ideia de lançarem um documentário que não incidisse no sensacionalismo que o caso teve na década de 1990. De acordo com a autora, essa é a primeira vez que a história é verdadeiramente contada, principalmente porque o assassinato da atriz paralisou o Brasil.

Protagonista de uma novela das 20h, escrita pela própria mãe, Daniella se tornou vítima de um companheiro de profissão, com quem chegou a fazer par romântico na mesma trama, Guilherme de Pádua e sua então esposa, Paula Peixoto, que na época carregava o sobrenome Thomaz. Com um único pedido à produção do seriado de que não entrevistassem os condenados pelo crime, Glória Perez conduz o espectador pelos acontecimentos do fim do ano de 1992.

A escritora, embora não discorde da ressocialização dos indivíduos, revela que os psicopatas não podem “se recuperar”, e que não conhece na história nenhum que tenha conseguido. Para ela, tanto Guilherme, quanto Paula devem ser considerados “psicopatas de carteirinha”. Assim que tudo aconteceu, Glória logo voltou a trabalhar, finalizando inclusive a trama em que a filha atuava, e explica que o “vínculo com o real é essencial” para conseguir suportar momentos como o que passou.

De acordo com ela, ainda que tenham se passado quase 30 anos, até agora ainda não conseguiu viver a experiência do luto. Glória ainda aponta que mídia daquela época, além de sensacionalista, também era machista, principalmente quando escolheu abrir espaço para que Guilherme de Pádua “exercesse seu exibicionismo”, criando versões em que tentava se eximir da culpa, transferindo tudo para a própria vítima.

“Não foi feminicídio”

Glória Perez ainda aponta que o crime não pode ser interpretado como feminicídio, isso porque Guilherme e Paula apenas cometeram o assassinato porque ele tinha tido seu papel reduzido na trama, além de inveja e vingança. Como forma de atingir a própria autora, Daniella acabou sendo morta pelo casal, e isso não tem a ver com o gênero da filha. Mas, para ela, a forma como a imprensa tratou o assunto tem relação direta com o fato de ser mulher: “Como bem diz meu filho: se um homem é encontrado espancado e apunhalado 18 vezes num local de desova, a pergunta é: quem jogou ele lá? Quando se trata de uma mulher, não falta quem especule: o que ela foi fazer lá?”

Hoje, Guilherme é pastor da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte – Direitos autorais: Reprodução/Instagram.

Para a autora, a opinião pública sempre esteve ao lado da filha, tanto que na época em que sequer imaginava como seria o mundo conectado na internet no futuro, ela conseguiu mais de 1 milhão de assinaturas para mudar a lei, mas o documentário acabou servindo como forma de remover o crime do “terreno da ficção” e devolvendo ao real, o que fez com que acabasse se tornando um sucesso atual.

Por mais que o resultado da série tenha sido tudo o que a autora esperava, ela ainda assim relata tristeza ao assistir os episódios. Resgatando a “pessoa real” que foi Daniella, ela finalmente conseguiu contar o que passou durante aquele período, e como se sente até hoje com a ausência da filha, que teria completado 52 anos no dia 11 de setembro.

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Agatha Rodriguez
Jornalista e redatora no site O Segredo. Procura escrever sobre temas impactantes e presentes no cotidiano de todos, incentivando as pessoas a se tornarem melhores a cada dia.

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