Encerrar um ciclo antes de começar outro nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente quando falamos de responsabilidade emocional.

Vivemos em uma sociedade onde a monogamia é quase que um pré-requisito para as relações íntimas, e a dificuldade de fechar um capítulo antes de abrir outro é um problema real. Há inúmeros estudos que tentam estabelecer uma conexão entre o comportamento humano e as constantes investidas amorosas.

Mas por que será que os homens permanecem com suas parceiras mesmo gostando de outras?

Essa pergunta pode ter várias respostas, e talvez envolva mais da nossa cultura do que gostaríamos de admitir, mas a verdade é que muitas pessoas hoje em dia buscam responsabilidade emocional. Essa responsabilidade não é algo que se adquire da noite para o dia, e tem mais a ver com autoanálise e autocrítica do que com a culpabilização do outro.

Em vez de apenas fazer suposições sobre as razões das traições emocionais masculinas, vamos buscar estudos para explicar, mesmo que um pouco, as razões desse comportamento. Há inúmeras pesquisas e teses de diferentes universidades do mundo tentando mapear e entender os motivos dessa forma de agir.

Uma tese de mestrado publicada em 2012 pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) mostra que podemos relacionar o ciúme como causa de comportamentos infiéis até certo ponto. Isso significa que quanto mais ciúme você tiver do seu parceiro ou parceira, maiores as chances de traição.

Surpreendentemente, o estudo revela que tanto homens quanto mulheres são propensos a trair, o que significa que o gênero não é um fator relevante para o nível de infidelidade. Sem mapear os fatores, o autor Thiago de Almeida explica que, enquanto as mulheres buscam envolvimento emocional, os homens, na maioria das vezes, estão mais propensos a procurar aventuras sexuais.

Outro estudo realizado pelo Archives of Sexual Behavior em 2017 tentou entender um pouco mais sobre o comportamento infiel dos entrevistados. Das 500 pessoas, aquelas que disseram ter sido infiéis no primeiro relacionamento tinham três vezes mais chances de cometer o mesmo ato no segundo.

Um estudo de 2018 do Journal of Personality and Social Psychology mostra que as pessoas mais jovens também são mais propensas a trair a confiança de seus parceiros. Sabemos que existem outros fatores que podem ser determinantes quando se trata de envolvimento emocional e afetivo, como o ambiente em que se cresceu, as pessoas com quem conviveu e até as realidades às quais as pessoas foram expostas ao longo da vida.

Mas, a cada dia, os indivíduos têm questionado veementemente os padrões atuais de relacionamentos, colocando em xeque premissas que há 20 anos eram regras.

A tendência a mostrar mais empatia por quem é traído do que por quem trai também pode ser observada, sem tentar investigar profundamente quais foram as questões que levaram aquele casal a não corresponder mais aos ideais monogâmicos esperados.

A responsabilidade emocional é uma obrigação das duas pessoas envolvidas, e isso inclui ser honesto, leal e disposto a entender o que machuca o outro. Entrar em um relacionamento sem esquecer o anterior, envolver-se com duas ou mais pessoas ao mesmo tempo sem que as partes saibam, mentir, enganar, ludibriar, inventar e sempre procurar desculpas que justifiquem o comportamento infiel são erros imperdoáveis em uma construção a dois que busca compartilhar uma vida.

Se a traição envolve questões emocionais, pessoais, financeiras ou culturais, é difícil mapear com precisão, mas isso não significa que devemos fingir que são toleráveis. Existem pessoas capazes de perdoar investidas emocionais de seus parceiros, e aquelas que jamais perdoariam qualquer nível de envolvimento, e isso depende da dinâmica de cada casal, sem haver certo ou errado.

É importante salientar que o gênero não justifica a decepção, assim como reforçar estereótipos vigentes na sociedade também não isenta a pessoa das consequências. O mito de que o homem trai mais que a mulher ou que existem formas comportamentais masculinas que explicam as razões para que alguns não consigam encerrar os ciclos já foram desbancados pela quantidade de estudos existentes.

Lembre-se de que nem todas as pessoas são capazes de se envolver emocionalmente de maneira responsável com outras, e não há nada que se possa fazer. Se o seu parceiro ou parceira realmente quiser se comprometer com você, será capaz de procurar entender o que o motiva a agir de maneira desleal, em grupos de terapia ou mesmo em consultas psicológicas.

Muitas vezes, o medo de encerrar ciclos vem mais da incapacidade de deixar o outro mal ou da necessidade de inflar o próprio ego do que por outras razões.

Busque um diálogo honesto em seu relacionamento, seja aquilo que você espera do outro e não se sinta mal caso não receba amor da mesma maneira. Não podemos construir casas sobre seres humanos, as pessoas existem apenas para nos ajudar a ser melhores e, se um romance lhe causa dor, não existem motivos para continuar nele.

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