O Professor Sylvain Helaine, de 37 anos, afirma que ensinar é uma de suas maiores paixões e que a proibição foi um ato de “preconceito”.
As intervenções estéticas no corpo humano são conhecidas desde as mais remotas civilizações, e os primeiros registros de grupos que marcavam os corpos com o que hoje entendemos como tatuagem aconteceram entre 2160 e 1994 antes de Cristo. Vários historiadores apontam ainda o Homem de Gelo, uma múmia de mais de 5.300 anos, descoberta nos Alpes de Ötztal, que apresenta o que pode ser o mais antigo indício de tatuagem.
Com o passar dos anos, e a depender da comunidade, marcar o corpo poderia significar infinitas coisas, desde parte de um tratamento, ritual religioso, estética de um grupo, indicando sua classe social, marcar prisioneiros, entre outros. A prática acabou se popularizando no final do século XIX, quando a máquina de tatuar elétrica foi inventada.
Atualmente, vemos como uma manifestação artística e até como moda entre os jovens que sentem necessidade de se destacar permanentemente, marcando na pele aquilo de que gostam, defendem e enxergam como belo.
Durante certa época, a tatuagem era vista como marcação de grupos excluídos, como marinheiros e presidiários, mas depois que caiu no gosto popular, muitas pessoas têm demonstrado afinidade com ele.
Para o professor francês Sylvain Helaine, de 37 anos, as tatuagens acabaram lhe custando mais caro do que imaginava: o emprego. Embora pareça uma reportagem do final da década de 1990, a verdade é que, de acordo com a Reuters, ele foi demitido em 2020 porque os pais e administradores da instituição de ensino acreditavam que as crianças poderiam “se assustar” com sua aparência.
Direitos autorais: Reprodução Instagram/ @freakyhoody
Embora colecionasse tatuagens, sua dispensa só aconteceu depois que ele tatuou os globos oculares, deixando-os totalmente pretos. Como era professor do jardim de infância, um pai reclamou com a direção escolar, afirmando que seu filho tinha ficado assustado, embora nem sequer fosse aluno de Sylvain, que leciona para crianças a partir de 6 anos.
O professor garante que as crianças se chocam com sua aparência apenas no primeiro momento, já que seus alunos passam a enxergar muito além da aparência. “Todos os meus alunos e seus pais sempre foram legais comigo porque basicamente eles me conheciam”, disse o educador, revoltado com a decisão.
Direitos autorais: Reprodução Instagram/ @freakyhoody
Helaine dava aulas no jardim de infância da Escola Primária Docteur Moreré, em Palaiseau, no subúrbio de Paris, quando o pai de um aluno de três anos, que não frequentava suas disciplinas, entrou em contato com a direção escolar pedindo a expulsão do profissional. Segundo explica o professor, o pai alegou que o filho — que nunca teve aulas com ele — teve pesadelos depois de vê-lo nos corredores da escola.
Alguns meses depois, os responsáveis pela instituição anunciaram formalmente sua demissão, mas ele defende que a atitude foi infundada e “muito triste”. Um porta-voz da autoridade educacional da região disse que ele deve ficar afastado do jardim de infância, só podendo dar aulas para crianças acima de 6 anos ou do ensino fundamental.
Direitos autorais: Reprodução Instagram/ @freakyhoody
As tatuagens entram na vida do professor aos 27 anos, quando ele passou por uma “crise existencial” capaz de tirá-lo completamente dos trilhos. Desde essa época, as tatuagens se revelam uma de suas paixões, assim como lecionar, o que já fazia, mas em uma escola particular em Londres (Inglaterra).
Um de seus maiores desejos é mostrar aos alunos que as pessoas merecem ser aceitas como são e que a aparência não pode ser suficiente para determinar as relações humanas. Ele espera que essas crianças cresçam menos racistas, homofóbicas e com a mente mais aberta às diferenças.