Assim que soube da história de Camila, um dos filhos de Miriam disse que ninguém adotava adolescentes, por isso eles tinham que ajudá-la.
As formas de constituir uma família são inúmeras, e cada lar tem uma forma diferente de encarar a vida.
É possível construir uma realidade amorosa sendo mãe ou pai solo de várias crianças, sem criança alguma, adotando, gerando biologicamente, sendo “pais de pet” ou até mesmo criando um indivíduo da própria família, um sobrinho, por exemplo.
Existem lares com dois pais, com duas mães, lares religiosos ou mais científicos. Existem casais que lutam anos para gerar uma criança e aqueles que são pegos de surpresa. Não existe um jeito certo ou errado de constituir família, principalmente se o amor for o sentimento que rege a vontade dos adultos da residência.
A adoção é uma dessas variadas formas de criar que proporcionam tanto aos pais quanto às crianças e adolescentes uma segunda chance, uma possibilidade de dar e receber amor. Miriam e Nestor contaram ao jornal TN um pouco da sua história e da grande vontade de ter filhos que sempre nutriram.
Ao consultar um especialista, Miriam descobriu que tinha um problema de fertilidade, e caso engravidasse, sua gestação seria de alto risco. Assim que soube disso, decidiu que não mais tentaria ter filhos biológicos, e como tinha contato com a realidade da adoção na própria família, conversou com o marido sobre a possibilidade de terem filhos dessa forma.
Direitos autorais: reprodução/arquivo pessoal.
Nestor ainda não estava acostumado com a ideia, e os anos foram se passando, até atingir 45 anos e dizer a Miriam que a adoção era a melhor escolha para eles. No fim de 2016, depois de participarem de uma palestra sobre famílias adotivas, perceberam que não queriam bebês, já que eram mais velhos e cheios de ocupações que não condiziam com a rotina de crianças pequenas.
Desde que iniciaram a parte burocrática até o momento em que receberam a ligação sobre os filhos, tinham se passado apenas três meses. Nestor disse à esposa que o tribunal tinha ligado, informando que havia dois meninos, de 7 e 8 anos, que podiam ser adotados.
O casal já tinha combinado que, caso as crianças preenchessem os requisitos que tinham em mente, não declinariam da proposta, já que os filhos não podem ser escolhidos. Ian e Lolo precisavam de espaço e disciplina, de acordo com os profissionais que cuidavam do caso, e também já estavam indo para a terceira tentativa de adoção.
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Quando conheceram os meninos, descobriram que foram espancados pelos responsáveis anteriores, então Miriam e Nestor prometeram que nunca seriam agressivos com eles, e desde então formaram uma sólida e amorosa família.
Mas eles não imaginavam que mais uma pessoa se somaria à família. Camila foi aluna de Miriam na Fray Mamerto Esquiú Middle School, e ela conta que a menina era extremamente tímida, não conversava com os colegas e se recusava a fazer trabalhos em grupo. Mas a professora percebeu, a certa altura, que ela começou a faltar às aulas, e decidiu perguntar para a diretora o que estava acontecendo.
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Miriam descobriu que a menina tinha sido mandada para um orfanato, já que as tentativas com os pais adotivos anteriores não tinham dado certo. A professora conheceu uma menina que era colega de Camila no abrigo, e pediu que ela lhe enviasse uma mensagem, dizendo que tinha saudade dela e gostaria de revê-la.
Camila precisava de “referências emocionais”, de acordo com o juiz, que basicamente é quando os adultos atuam como pais adotivos provisórios de alguma criança, até que ela seja enviada para um lar permanente. Miriam gostaria de ocupar esse papel na vida da adolescente de 16 anos, mas sabia que sofreria muito no dia em que o vínculo acabasse. Foram longos meses recebendo Camila apenas nos fins de semana, saindo para comer e para alguns passeios.
Conforme o tempo passava, a família percebia que ela estava cada vez mais magra, e viam naquilo algo negativo. Como a menina não tinha quarto no abrigo onde morava, o juiz acabou pedindo que ela passasse também a pernoitar na casa da família, o que, invariavelmente, acabou levando à adoção.
Antes de tudo se tornar oficial, fazendo uma retrospectiva das outras adoções e da experiência de trabalhar com adolescentes no ensino médio, Miriam perguntou aos filhos o que eles achavam de ter Camila como irmã. Ian logo respondeu que ninguém adota adolescentes, e se eles não a ajudassem, ela nunca teria um lar.
Direitos autorais: reprodução/arquivo pessoal.
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Para Miriam, não é difícil adotar, mas os adultos precisam se perguntar com quem querem formar uma família, já que podem fazê-lo com pessoas de todas as idades. É preciso repensar a questão de adotar apenas crianças pequenas e bebês, não que isso seja ruim, mas porque as crianças mais velhas e os adolescentes também precisam de atenção e afeto.