A vida em si é o campo búdico, o grande palco, onde as transformações acontecem a todo instante e tudo faz sentido. Nada é por acaso e não existem coincidências.
Os olhos do coração são capazes de ver a conexão perfeita entre fatos que parecem acontecer “por acaso”. O nosso campo informacional-vibracional atrai tudo o que vivemos, tanto as situações agradáveis quanto as menos prazerosas. Cada experiência é única e necessária para o nosso crescimento.
Existe uma coerência mágica na vida e ela por si nos indica o caminho a ser percorrido. As mensagens estão por todos os lados. É preciso confiar e estar alerta para captá-las.
Frases que nos tocam, pessoas que chamam a nossa atenção, desejo de estar em determinados ambientes ou de viajar para certos lugares. Seguindo a nossa intuição entramos em contato com esse mapa secreto e fluímos na vida de forma harmoniosa.
Hoje, compartilho uma história que mostra que tudo está interconectado e que quando seguimos os sinais nos rendemos ao mistério da vida, que não pode ser compreendido, mas vivido.
Era um final de semana especial. Pessoas reunidas com um único propósito: a cura. Eu participava de um workshop de constelação familiar do Dr. Renato Shaan Betarte. A técnica, que ganha cada vez mais espaço e respeito no Brasil, foi criada pelo filósofo, teólogo, pedagogo e psicoterapeuta alemão Bert Hellinger e o Dr. Renato é o único brasileiro membro do corpo docente da Hellinger Schule (escola, em alemão).
Ela se levantou para participar de uma constelação. Calça jeans escura, camiseta azul marinho com uma mandala prata no centro e sapatilha prata. Olhei para ela e me surpreendi porque eu me vestiria exatamente daquela maneira. Um sino tocou em mim.
Para o médico e etólogo francês Boris Cyrulnik, “antes de conversarmos, é preciso aproximarmo-nos, antes de partilharmos os nossos mundos interiores e de contarmos as nossas histórias, é preciso ver, perceber, saber a quem nos dirigimos, de maneira a escolher a parte de mundo interno comunicável a esse outro. Qualquer conversa banal, exige que um número incrível de sinais seja percebido e descodificado para se compreender o seu significado”.
Parece-me que, ao olhá-la, todos os sinais foram decodificados, em milésimos de segundo, sem sequer uma palavra. Ela não me viu, mas eu me vi nela. Porque me identifiquei com aquela vestimenta? O que teríamos nós em comum além do que pude ver?
No intervalo para o almoço segui para um restaurante sugerido por uma amiga, a Cris, que eu não via há muitos anos e que participava do workshop como terapeuta assistente. Conosco estava a minha amada prima Patrícia, que participava pela primeira vez de uma constelação familiar e estava encantada com tudo o que estava vendo.
Ao entrarmos no restaurante, nós nos dirigimos a uma mesa para seis pessoas. Três mulheres, já sentadas, nos receberam com um sorriso no rosto. A mesa estava completa. O encontro parecia ter sido marcado, mas eu não sabia.
Ao meu lado estava a mulher de calça jeans escura e camiseta azul marinho. Agora de perto eu podia ver que, além da mandala e da sapatilha prata, os olhos azuis dela também brilhavam.
Fomos apresentadas e, enquanto esperávamos os pratos serem servidos, falamos brevemente sobre as minhas sessões de memórias do corpo. Ela e uma outra mulher muito elegante e simpática, que sentava à minha frente, prontamente disseram que gostariam de receber uma.
Eu estava em São Paulo de passagem e o tempo era curto. Troquei telefone e fiquei de dar um retorno, mas a que estava ao meu lado fez questão de repetir que realmente queria a sessão. Senti a urgência. Eu não podia dizer não.
Marquei ali mesmo o dia e o horário e ela, sem questionar, me passou imediatamente o endereço. Quando li, eu me surpreendi ao lembrar que viajei com aquela rua anotada porque ali estava um restaurante que eu queria conhecer. O sino tocou em mim novamente. Quantas “coincidências”. Ela também muito surpresa disse que o restaurante era o único da pequena rua, que ficava ao lado do prédio dela e vivia vazio. Sorrimos.
Depois de dois dias segui bem cedinho para a sessão. Cheguei adiantada e antes de me apresentar na portaria do prédio caminhei lentamente pela rua tranquila e olhei o restaurante, ainda fechado.
Era uma manhã silenciosa e fresca. Observei atentamente os prédios, as árvores, o céu e ouvi os pássaros. Eu estava numa cidade gigantesca e completamente em paz.
Passei por uma bicicleta na calçada e um rapaz, que estava entregando sacolas de pães, cantarolava uma canção de amor. Nós nos olhamos, sorrimos e, quando ele parou de cantar, eu completei o refrão e segui caminhando.
Meu coração se abriu e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu sabia e ele também que estávamos simplesmente felizes, que a manhã estava linda e que naquele instante o paraíso tinha descido à Terra.
Foi assim, com o coração transbordando de gratidão, que entrei na casa da Jana, a mulher da calça jeans escura, camiseta azul marinho com a mandala prata e dos imensos e luminosos olhos azuis, para uma sessão longa e profunda.
O nosso encontro estava marcado. Não sei quais caminhos ela trilhou para chegar até ali, mas sei que algo muito lindo aconteceu e que eu não precisava saber nada sobre ela para ter a certeza de que era uma buscadora. Entendi o que tínhamos em comum, além daquela vestimenta que me chamara a atenção.
Ao longo da sessão o tempo parou e tocamos juntas o sagrado, o silêncio que unifica, o espaço de onde tudo surge e para onde tudo retorna.
No nosso programa genético-energético carregamos não só a memória da nossa linhagem ancestral como de todo o processo evolutivo da humanidade, do planeta Terra e do Universo. Somos corpo-memória manifestados com a potencialidade máxima da autoconsciência e a nossa consciência nos possibilita acessar através do aqui e agora, algo além do físico, a nossa imortalidade.
Por um tempo, acreditei que experiências como a da Jana só fossem possíveis para pessoas que dedicam a vida à busca interior em centros de meditação, vivendo em silêncio e se expondo à intensos processos de autodescoberta. Afinal, essa era a minha experiência.
Encontrá-la foi mais uma prova de que a vida é o grande caminho da transformação e que o mistério está disponível para todos. Ela cresceu e floriu na vida e com a vida, estudando, trabalhando, passando por um casamento e criando os filhos. Ela cresceu vivendo.
Duas mulheres: ela de origem judaica, eu de origem austríaca. Duas histórias e uma só busca. Há muitos diamantes pelo caminho e para recebê-los é preciso dizer sim, mesmo quando o tempo parecer curto.
Na mesma semana, antes de me despedir de São Paulo, marquei a sessão para a mulher elegante e simpática, a Hae. Outro grande presente da existência, que me mostrou mais uma vez que para meditar não é necessário abandonar o mundo e ir para o Himalaia e que o mistério está em todos os lugares.
A vida está sempre nos mostrando a direção. São muitos os caminhos disponíveis: diferentes rios fluindo para o mesmo oceano e inúmeras trilhas que se encontram no mesmo topo da montanha.
Através da nossa frequência energética atraímos situações e pessoas e recebemos exatamente o que precisamos para evoluir. É como sintonizar o rádio naquele ponto onde não há nenhuma interferência e a transmissão é recebida com total clareza. Quando o canal está limpo, tudo é tão sincronizado e perfeito, que nem parece real.
É preciso olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para sentir. Há um fio dourado ligando todos os eventos da nossa vida e nos guiando na busca de nós mesmos.
Nosso desafio, onde quer que estejamos, é a autodescoberta. É preciso coragem para olhar para as partes que congelam o nosso ser e ofuscam a nossa alegria de viver. É preciso confiança para nos resgatar. Quando levamos luz e consciência ao que nos traz sofrimento e confusão o sol volta a aquecer nossos corações.
Agradeço por ter reencontrado a Cris e por através dela ter conhecido as queridas Jana e Hae. Agradeço pelos dias maravilhosos que desfrutei da companhia sempre amorosa da minha amada prima Patrícia.
Como é bom trocar, crescer junto, e se enriquecer com a presença do outro. Celebremos a sede do homem de se desvendar e de ser o que ele nasceu para ser: simplesmente divino.
A vida em si é o campo búdico, o grande palco, onde as transformações acontecem a todo instante e tudo faz sentido. Nada é por acaso e não existem coincidências.
* a citação de Boris Cyrulnik foi extraída do livro “Nutrir os Afectos”, do Instituto Piaget, Lisboa.
Direitos autorais da imagem de capa licenciada para o site O Segredo: microstockasia / 123RF Imagens