A polêmica que envolve a atriz Cássia Kis segue dando repercussão, e membros da equipe técnica e até mesmo do elenco, não aprovam sua continuidade em “Travessia”.
A corrida presidencial deste ano mostrou não apenas a cisão política que o Brasil – assim como outros países do mundo – se encontra, mas também a quantidade de cidadãos que apoiam e compartilham discursos de ódio, preconceituosos e antidemocráticos, pedindo intervenção militar e se recusando a aceitar o resultado histórico das urnas, em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não apenas conquistou a presidência, mas também foi eleito com o maior número de votos.
E não são apenas pessoas anônimas que têm defendido tais discursos, mas também famosos, como a atriz Cássia Kis, 64 anos, que ter participado ativamente das manifestações antidemocráticas, já reproduziu notícias falsas e falas homofóbicas, gerando um mal-estar com os colegas de trabalho na Rede Globo. Interpretando Cidália, em “Travessia”, a artista atua ao lado de Ana Lúcia Torre, 77 anos, que faz tia Cotinha, e que tem evitado entrar em polêmicas ou confrontos nos bastidores.
Em entrevista ao Splash, Ana Lúcia Torre conta que a situação toda com Cássia Kis não é agradável para ela, que não compactua com nenhuma das falas homofóbicas ou com as manifestações que pedem por golpe. A atriz ainda se diz uma pessoa com muita fé, mas que acredita em um Deus que agrega, e não que separa, pune e divide a sociedade.
“Sou uma pessoa de extrema fé. Acredito em Deus profundamente. Mas o meu Deus é agregador. Ele não é preconceituoso. Por exemplo: como não vou gostar de uma pessoa negra apenas porque sou branca? É meu irmão em Cristo. Existem atitudes por aí que não gosto”, explicou Ana Lúcia.
Por mais que não compactue com o comportamento da colega de elenco, ela ainda assim procura manter uma harmonia nos bastidores, evitando qualquer tipo de enfrentamento ou polêmica. Ana Lúcia Torre explica que como trabalham juntas, tentou criar uma forma de conseguir lidar com a situação, e atualmente trata Cássia Kis como Cidália, sua personagem, esquecendo quem é a atriz fora das telas. “Foi a solução que encontrei para mim, para não ficar um clima nesse ambiente”, explica.
Essa não é a primeira vez que as atrizes dividem as telinhas, elas já contracenaram em “Amor Eterno Amor”, novela que foi ao ar em 2012, onde elas viviam as irmãs Melissa e Verbena. Mas aparentemente o que antes se tratava de uma relação mais próxima, atualmente parece ter se transformado completamente, colocando Ana Lúcia Torre e Cássia Kis em lados opostos no que diz respeito ao contexto político.
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Ana revela que o que a mantém fora de confusão é conseguir usar todo seu profissionalismo, em busca de evitar conflitos e esquecer das diversas opiniões expressadas por Cássia nas redes sociais e em manifestações antidemocráticas. Ainda assim, ela tem profundas expectativas de que o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva pode causar mudanças reais no Brasil, principalmente no aspecto artístico.
De acordo com Ana Lúcia Torre, a classe artística ficou completamente desassistida durante o atual governo de extrema-direita, e muitas verbas e incentivos culturais acabaram sendo completamente cortados, principalmente durante a pandemia. Além disso, a população e inúmeros políticos chegaram até mesmo a inverter o significado da Lei Rouanet, por exemplo, criminalizando artistas que recebiam dinheiro por seus trabalhos.
Ainda que a política e a reconstrução do país sejam um processo, a atriz acredita que existe sim saída, mas que é preciso investir em cultura, que é uma área de extrema urgência e necessidade para a população. “Cultura é absolutamente necessária para um povo. Quem não tem cultura e educação só anda para trás”, finalizou Ana Lúcia.