Leticia Salles se despede da primeira fase de Pantanal com a sensação de dever cumprido: em sua estreia como atriz, a ex-modelo de 27 anos ganhou o carinho do público por Filó, apaixonada por José Leôncio (Renato Góes), mulher forte que a partir desta terça (12) será vivida por Dira Paes. “Filó é sensacional e muito mais que apenas o relacionamento dela. É uma mulher muito humana, muito forte e com grande coração, que toca em muitas questões femininas”, diz.
Leticia é carioca do Parque União, no Complexo da Maré, comunidade na Zona Norte do Rio onde cresceu em uma família de mulheres fortes. Filha única, ela foi criada pela mãe, a professora de espanhol Maria Fernanda, na mesma casa em que viviam a avó, Margarida, e a tia Flávia. O pai, Lino, de quem ela tem dois meio-irmãos, vive em outra cidade.
“Fui criada por mulheres fortes; minha avó não conheceu o pai, e nem minha mãe conheceu o dela. Elas me transmitiram força, éramos quatro mulheres, não tinha nenhum homem, aquele macho-alfa para cuidar da casa. Nunca existiu isso”, lembra Letícia, que desde cedo correu atrás de uma vida melhor. “Todas nós tivemos que ter um foco, um objetivo. A nossa história de estar morando naquele lugar foi um combustível que dava mais motivação para a gente sair dali e ter uma vida melhor”, diz a atriz.
Ela chegou a fazer Biomedicina, mas não estava feliz com o curso, que acabou trancando. Leticia trabalhava em um salão de beleza em Ipanema, do outro lado do Rio, quando surgiu a chance de ser modelo. “Saía de casa muito cedo e voltava só à noite. Às vezes dormia na casa de uma amiga para ficar mais perto do trabalho”, conta. Duas cliente do salão, donas de uma agência de modelos, viram o potencial de Leticia para a carreira e ela logo trocou o emprego pelas campanhas de moda.
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“Vi que ganhava melhor e me encontrei naquilo. Hoje não existe mais top model, mas eu almejava uma carreira boa”, conta ela, que em 2018 recebeu uma proposta para ir modelar em Londres por uma temporada. “Foi difícil, porque eu não falava nada de inglês, só o básico do básico para sobreviver. Mas eu queria mudar e ajudar minha família e aprendi na marra”, lembra a atriz. “O melhor curso [de idioma] é viver no lugar e estar em contato com as pessoas, então eu evitava conviver com brasileiros para aprender a língua”, conta.
Os anos no exterior tiveram, como Letícia mesmo diz, “muitos perrenguezinhos”, principalmente de ansiedade. “Comecei a comer demais e descontar na comida. E tem as exigência da agência [de modelos] de que tem que sempre se estar na melhor forma e não me sentia boa o suficiente”, confessa a atriz, que começou a correr para manter o peso, depois para aliviar o estresse e hoje é uma apaixonado pelo esporte – já correu até uma meia-maratona, incentivada pelo namorado, o empresário João Paulo Fonseca, que é maratonista.
Enquanto ainda morava em Londres, ela começou a pensar na ideia de seguir a carreira de atriz, incentivada por seu empresário, mas Leticia estava decidida a volta ao Brasil quando conseguisse juntar dinheiro para viver sozinha, o que só acontecer em 2020. “Cheguei me fevereiro e em março o mundo fechou com a pandemia Nesse sentido dei muita sorte de conseguir voltar antes”, lembra ela, que alugou um quarto no apartamento de uma amiga na Zona Sul do Rio e passou 2020 estudando online.
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Para Pantanal, ela fez testes para vários personagens até a direção decidir que ela se adequava mais ao perfil de Filó. Da primeira versão da novela, Leticia checou alguns trechos no YouTube, para ter uma noção geral da trama, e optou não se aprofundar para não ser influenciada pela atuação de Tânia Alves, que fez a Filó jovem na produção da Manchete em 1990. Mas fez questão de conversar com Dira sobre a personagem, de forma que suas Filós “conversassem” e tivessem coesão de uma fase à outra.
“Desde o dia que mandei a primeira mensagem para a Dira não nos desgrudamos mais. A gente conversou sobre a postura da Filó, como ela se colocava como mulher… Tivemos o mesmo entendimento sobre a personagem”, diz Leticia, que como o resto do elenco gravou no Pantanal, que ainda não conhecia. “A novela veio em um momento muito importante porque o Pantanal precisa ser visto com carinho”, pondera a atriz, que se apaixonou pelo tuiuiú, a ave-símbolo da região e nadou em rio com jacaré. “Como a gente ia em grupo, eu sempre ficava no meio da rodinha pensando ‘se ele pega alguém vai primeiro em quem está nas beiradas’”, brinca.
Estar no Pantanal também ajudou Leticia a ter um entendimento maior sobre Filo, que é personagem fundamental na trama das 9. “Filó saiu de casa muito cedo por várias razões, foi mulher de currutela e se apaixonou pelo Zé Leôncio. Quando ele oferece um emprego para ela, muda sua vida”, diz a atriz. “Zé sente amor por ela, mas o que o pai dele falava tem um peso muito, então pensa daquele jeito [mais antigo]”, pondera.
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