A mãe da menina que foi sequestrada em Tramandaí, na região costeira norte do Rio Grande do Sul, compartilhou detalhes sobre o estado emocional da filha após o ocorrido.
A menina foi encontrada por policiais escondida em um compartimento secreto de uma loja de conveniência na manhã de quarta-feira (26).
Segundo a mãe, que optou por não ser identificada, a menina está profundamente traumatizada, ao ponto de não conseguir dormir no escuro. A polícia estima que ela pode ter ficado cerca de 12 horas no esconderijo.
O suspeito do sequestro, Marco Antônio Bocker Jacob, 61 anos, teria usado um picolé para atrair a menina. Ele foi agredido pelos moradores que testemunharam o resgate.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na quinta-feira (27), a mãe prometeu fazer tudo ao seu alcance para ajudar a filha a superar o trauma.
“Sou muito grata a Deus. Prometi que vou apoiar e rezar pelo resto da minha vida e vou dar o que ela quiser. Vou me esforçar ao máximo para fazê-la feliz, para fazê-la esquecer isso“, disse a mulher.
Ela também informou que, após ser resgatada, a criança recebeu atendimento especializado em um hospital de Porto Alegre. Ela já está de volta em casa.
Menina iria para pracinha
De acordo com a mãe, a menina costumava brincar com outras crianças no quintal de casa para evitar sair para a rua. No entanto, na terça-feira (25), as crianças planejavam ir para um parquinho, e foi então que a mãe decidiu abrir uma exceção. Ela lembra:
“Ela me pediu ‘mãe, eu posso ir na pracinha? As crianças da frente vão, meus amiguinhos’. Eu não ia deixar, mas acabei sentindo pena dela. Até disse ao meu marido ‘amor, vou deixar ela brincar um pouquinho ali, todas as crianças vão ali’”. Quando percebeu que a filha não estava mais no parquinho, a mãe se sentiu “culpada”.
“Todo mundo disse que eu não tinha culpa“, comenta.
“Ainda sinto culpa porque se eu não tivesse permitido (ela ir), nada disso teria acontecido“, lamenta a mulher.
O sargento Christian Pacheco, que participou do resgate da menina, enfatiza que a mãe “não deve se culpar“. Era um criminoso agindo. Ele tinha antecedentes e, infelizmente, a pequena foi vítima, afirmou Pacheco.
A mãe da menina revela que a filha não quer falar sobre o ocorrido. O acordo em casa é que ninguém discuta o assunto na presença da criança. “Ela disse ‘mãe, eu não quero falar nada, eu não quero que ninguém fale’“, relata.
Segundo o sargento Pacheco, membro do 2º Batalhão de Choque de Santa Maria e envolvido na Operação Golfinho do Litoral Norte, a prioridade dos agentes da Brigada Militar era preservar a vida da menina.
“Nos sensibilizamos com esse fato porque somos pais. É até complicado falar e não se emocionar porque minha filha tem nove anos também. Quando eu falei com ela ali, ouvi a voz da minha filha“, compartilha.
Entenda o que aconteceu
Em entrevista à RBS TV, o pai da menina contou que ela saiu de casa no final da tarde de terça-feira (25), por volta das 16h, para brincar na praça em frente à residência devido ao calor intenso.
Preocupados com a demora no retorno, os familiares começaram as buscas nas redondezas. Com o auxílio de vizinhos, distribuíram cartazes e acionaram um carro de som para anunciar o desaparecimento.
Durante as buscas, o pai foi até a loja de conveniência onde a criança estava sendo mantida refém pelo suspeito. Em seu relato, ele mencionou estranhar a atitude do homem ao perguntar sobre sua filha.
Notou que uma música alta tocava no local, o que chamou sua atenção. Também ficou desconfiado ao notar um arranhão no nariz do suspeito.
A Brigada Militar e a Polícia Civil foram acionadas e, através das imagens das câmeras de segurança, identificaram a menina entrando na loja.
Ao chegarem ao local, os agentes ouviram gritos de socorro vindos do interior do estabelecimento. Uma busca imediata foi realizada e a criança foi encontrada escondida em um compartimento secreto.
“Puxamos ela pelo braço e ela foi no colo de um colega“, conta o sargento Pacheco.
“Nós conseguimos com êxito tirar ela do local, colocar numa viatura discreta com a família e ir pra UPA dar o primeiro atendimento pra ela“, conclui.
Suspeito foi linchado
Identificado como o homem que sequestrou uma menina de 9 anos e a manteve em um compartimento secreto por aproximadamente 12 horas em Tramandaí, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, Jacob estava sob prisão domiciliar até janeiro, conforme informações do Tribunal de Justiça do RS.
O proprietário da conveniência recebeu ordem de prisão no momento em que a criança foi resgatada, segundo a Polícia Civil. Um cliente do local avisou os moradores sobre a detenção, o que gerou uma onda de indignação. O suspeito foi agredido pelos habitantes locais e faleceu em decorrência das agressões.
Os policiais militares que atendiam à criança relataram que pediram reforço e tentaram conter o ataque, mas uma multidão numerosa se formou, agredindo o suspeito, vandalizando a loja e destruindo um veículo estacionado em frente.
A Brigada Militar informou que utilizou balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar a aglomeração.