Uma cabeleireira e passista da Grande Rio, de 35 anos, tinha um sonho e viu tudo desmoronar ao passar por um procedimento cirúrgico e acordar sem um de seus braços, o que teria causado choque e estranhamento.
Alessandra dos Santos Silva sonhava em ter filhos. Por conta disso, em agosto de 2022, correu atrás de uma vaga para realizar uma cirurgia de retirada de miomas no útero, na rede pública. No entanto, ela só conseguiu seis meses após sua tentativa.
O alívio logo depois se tornou motivo de dor e lágrimas derramadas. Isso porque a mulher teve parte do braço esquerdo amputada e ficou sem o útero, ao sofrer por algumas complicações em seu quadro clínico.
Em entrevista à TV Globo, Alessandra lembra de ter acordado em outro hospital sem o membro superior. Nesta segunda-feira (24), ela, que tinha as tranças como especialidade, voltou ao salão onde trabalhava e lamentou profundamente tudo o que aconteceu. Disse que jamais poderá engravidar e que tiraram sua profissão.
Seus familiares registraram queixa na 64ª DP (São João de Meriti). Porém, dois meses e meio após o crime ocorrer, as autoridades ainda não deram respostas em relação à amputação do braço e quais seriam as razões para isso.
Entenda o caso
Alessandra dos Santos começou a ter fortes sangramentos e a se queixar de dores. Recebeu o diagnóstico de miomas uterinos e foi orientada a retirá-los por meio de uma cirurgia. Em janeiro, marcou a intervenção para o dia 3 de fevereiro.
Tudo aconteceu no Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti. A família da paciente foi avisada pelos médicos no dia seguinte que ela precisaria retirar completamente o útero. Foi quando os parentes notaram que os dedos da mão esquerda da vítima estavam mais escuros.
Ana Maria, mãe da cabeleireira, alegou que nem sequer a deixaram fotografar, a fim de ter provas. Ela perguntou aos profissionais sobre o porquê das mãos da filha estarem enfaixadas. Disseram que é porque ela estava com frio, mas na verdade estavam escondendo a necrose nos dedos.
Já no dia 6 de fevereiro, a equipe de saúde avisou que precisaria ser feita a transferência da paciente para o Instituto de Cardiologia Aloysio de Castro, no bairro de Botafogo. De acordo com os entes de Alessandra, seu braço estava completamente escuro.
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Quatro dias depois desse episódio, a família precisou autorizar a amputação ao escutar que ou seria o braço ou a vida da mulher, por conta de uma drenagem malsucedida. Os rins e o fígado da passista ficaram sobrecarregados e tiveram algumas complicações, quase parando de funcionar. Ela ficou dois dias em coma, o que indicava a gravidade do caso.
Sua alta ocorreu em 15 de fevereiro. O médico, no entanto, tomou um susto ao ver o curativo na barriga de Alessandra em torno de 13 dias depois. Ele a encaminhou para a mesma unidade de saúde, mas ela se recusou a voltar lá devido aos dramas que têm enfrentado.
O caos começou a se instaurar, já que tentou vaga em cinco hospitais diferentes, até precisar ficar internada no Hospital Maternidade Fernando Magalhães, que a transferiu para o Hospital Municipal Souza Aguiar.
Lá, ela ficou de 4 de março a 4 de abril. Sua indignação com o Hospital da Mulher Heloneida Studart aumentou ainda mais depois de ter recebido alta médica, já que não houve contato algum. Ainda em sua entrevista, a passista da Grande Rio afirmou que não tem certeza se eles sabem que ela está viva.
Desdobramentos
Será aberta uma sindicância que deve apurar os acontecimentos no local, conforme a nota emitida pela Secretaria Estadual de Saúde. Espera-se que o diretor do hospital conceda um depoimento ao delegado Bruno Enrique de Abreu Menezes, titular da 64ª DP.
Ao G1, o delegado explicou que assim que receber os prontuários médicos, solicitará uma perícia ao IML para saber se houve imperícia ou negligência. Alessandra dos Santos, que está noiva há 11 anos, infelizmente não conseguirá mais engravidar e ainda tem dúvidas se vai conseguir trabalhar sem uma de suas mãos.
Os custos da fisioterapia e medicamentos têm sido alavancados com o auxílio de amigos e uma rede de apoio fundamental neste momento tão difícil. Desde que voltou para casa, é assim que tem passado seus dias. Abalada, deseja que o hospital se responsabilize e que paguem por ter destruído seu maior sonho: ser mãe. “Conseguiram acabar com minha vida”, lamentou.