Ela cuidou dele quando estava doente, agora era sua vez de retribuir. Ele simplesmente não poderia deixá-la sozinha.

Quando as casas de repouso começaram a barrar visitantes para manter o coronavírus afastado, em 2020, Jack Eccles decidiu se mudar para o mesmo asilo em que sua esposa estava.

Hillcrest em Durham, na Carolina do Norte (EUA), não o deixou entrar em 12 de março daquele ano, quando ele chegou como de costume para passar a maior parte do dia com a esposa Gerry, que sofre de mal de Alzheimer.

Ele voltou no dia seguinte com uma mala de roupas, livros, medicamentos e seu computador, o estava convencido a se mudar para lá e ficar perto da esposa. Hillcrest concordou em alugar-lhe um quarto individual na área de convívio para que ele pudesse cuidar de Gerry, que tinha 91 anos, de acordo com informações do Wall Street Journal.

Jack, que tinha 93 anos e era um pastor batista de longa data, permaneceu em Hillcrest com a esposa. Por cinco meses, ele não saía e raramente via o sol — a janela de seu quarto dava para uma parede de tijolos.

Ele não tinha permissão para andar pelas instalações, exceto até o quarto de Gerry, onde a alimentava e, às vezes até o saguão, onde podia ver os membros de sua família pelas janelas, impossibilitados de entrar pelas normas de combate à covid-19.

Jack disse que o asilo, por vezes, parecia uma prisão, mas que não deixaria Gerry até que as visitas retornassem. O homem queria estar com sua esposa, cuidar dela como ela cuidou dele quando esteve muito doente, nos seus 70 anos. Agora, era a vez de Jack cuidar de Gerry.

Direitos autorais: Reprodução / Arquivo pessoal.

A instituição fechou o acesso a visitas por medo dos impactos da covid em seus residentes, todos idosos. Dois moradores de Hiilcrest contraíram covid, e um deles faleceu em decorrência da doença. Além da alta mortalidade, milhares de moradores ficaram solitários e isolados, sem contato com parentes e outras interações sociais nesse período.

Jack e o resto de sua família dizem acreditar que Gerry não conseguiria comer sem um deles por perto, dado o estágio avançado de deterioramento de sua mente por conta do Alzheimer. Também temia que nunca mais a veria. Embora seus filhos estivessem nervosos com o risco, eles concordaram com a decisão do pai de se isolar em um lar de idosos, onde não poderiam vê-lo. Jack e Gerry nunca haviam se separado.

Três vezes por dia, Jack ia ao quarto da esposa, que é compartilhado com uma colega, decorado com fotos de sua família e uma grande foto do casal.

Ela às vezes resistia à alimentação ou cochilava entre as mordidas. Usando máscara e óculos de proteção, Jack punha cereal e purê numa pequena colher de plástico e alimentava Gerry, limpava sua boca, para não sujar a roupa, posicionando sua cabeça e pescoço com cuidado, para que a esposa não engasgasse. Uma refeição de Gerry dura cerca de 90 minutos.

Em dado momento, a esposa parou de dizer “eu te amo” para Jack ou qualquer outra palavra. Ela não sorria mais ao vê-lo, o que lhe causava dor, embora ele percebesse que ela ainda o reconhecia, pois havia sempre um brilho no seu olhar quando estava próximo dela.

Funcionários da Hillcrest dizem que os esforços de Jack fizeram enorme diferença na saúde da esposa. A equipe do asilo é só elogios ao homem, dizendo que ele nunca reclamava de nada e parecia sempre estar feliz por passar qualquer tempo ao lado de Gerry.

Jack, que usava um andador e tem um histórico de problemas cardíacos, disse que as sessões não eram fáceis, e às vezes ele lutava para ser paciente ao aceitar o que acredita ser o plano de Deus. Algumas vezes, por tamanha frustração, ele se deitava no chão durante uma refeição, precisava fazer uma pausa. Depois de alimentar Gerry, ele normalmente precisa de uma soneca por causa do cansaço, que ele acredita ser mais emocional por conta da situação da esposa.

História do casal

Jack e Gerry se conheceram na faculdade e nunca mais se separaram. “Bastou um sorriso dela para se apaixonar”, contou. Dessa feliz união, nasceram nove filhos, que cresceram admirando o amor dos pais e sofriam por ver a mãe perder a memória, problema que começou em 2015. Gerry foi colocada no asilo em 2018, pois a doença estava tão avançada, que ela precisava de cuidados profissionais constantes. Mesmo que nem sempre se lembrasse de cada um, a família a visitava.

Direitos autorais: Reprodução / Arquivo pessoal.

Jack se mudou para o asilo com a promessa de que não sairia do lado de Gerry pelo resto de sua vida, e assim cumpriu. Gerry faleceu em novembro de 2021, no asilo Hillcrest, com o amado marido ao seu lado.

Unidos pelo amor até o fim!

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Giovana Souto
Jornalista, podcaster e redatora no site O Segredo. Busca usar as palavras para, acima de tudo, provocar sensações genuínas em quem as recebe. Tudo o que afeta, tem afeto, para o bem ou para o mal!

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