Apesar de ser uma condição relativamente comum, o autismo não é tratado da forma correta por muitas pessoas.
Por causar distúrbios de comportamento com os quais não somos acostumados a lidar, muitas pessoas excluem os autistas de seu convívio e os caracterizam como pessoas perigosas e imprevisíveis.
A ignorância sobre tal condição faz com que muitas pessoas autistas passem por situações humilhantes e constrangedoras em seu dia a dia, e sejam excluídas no ambiente escolar, profissional e até mesmo familiar.
No entanto, elas também podem contar com o amor e a compreensão daqueles que sabem que são muito mais do que a sua condição, e podem lhes proporcionar tanta felicidade e amor quanto a qualquer outra pessoa.
Recentemente, uma jovem viralizou no Twitter depois de fazer uma publicação relatando como é namorar um autista.
A estudante Ana Cecília Soares, de 18 anos, namora o também estudante Vittor Guidoni Marianelli, de 19, que é portador do TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Em entrevista ao BHAZ, a jovem complementou sua publicação contando sobre o seu relacionamento com Vittor. “É incrível conhecer alguém diferente da gente tão de perto. Eu sempre tive receio de lidar com pessoas TEA (Transtorno do Espectro Autista) pelo que eu sempre ouvi, mas de perto é algo completamente diferente e maravilhoso. Eu amo amar esse homem e aprender sobre ele todos os dias.”
Ana e Vittor se conheceram em Governador Valadares (MG), onde estudam, depois que Vittor, estudante de Medicina, ficou famoso na internet por postar uma foto no Twitter com uma blusa com o seguinte texto:
“Sim, eu faço Medicina. Mas por favor não me chame de doutor, me chame de Vittinho do SUS.”
Ana se interessou por ele e puxou assunto na rede social.
Amigos do Twitter, o proximo semestre vai vir com força pic.twitter.com/RQs4KzzzrP
— vittinho do sus ? (@VittorGuidoni) 21 de julho de 2019
“Achei a foto muito legal e comecei a conversar com ele pelo Twitter. Depois de algum tempo, viramos amigos e começamos a estudar juntos. Aí começamos a sair e, com um mês, começamos a namorar. Já estamos juntos há três meses e tenho aprendido muito com ele”, disse a jovem que parece estar muito feliz ao lado de Vittor.
Ela decidiu compartilhar no Twitter uma lista com situações que vive ao lado no namorado diariamente, para que as pessoas entendam melhor a vida de um autista e percebam que não há nada de “errado” com essas pessoas.
como é namorar uma pessoa no espectro autista (TEA)
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não é algo difícil mas tbm não é fácil, muita coisa é nova p mim, como por exemplo:
ele não entende ironia, sarcasmo, deboche etc
ele não entende quando eu to triste ou brava se eu não for muito direta
dramas não funcionam +— Lana (cecilia) Banana (@cecyclonada) 25 de novembro de 2019
“Às vezes, eu falava brincando que ele não me deu atenção o suficiente em determinado dia, ele ficava supersentimental e triste, até eu falar que disse isso brincando. As coisas de internet, ele custa a entender, é preciso explicar bem quando algo é irônico ou sarcástico”, diz Ana.
“Esses dias, eu estava estudando sobre ele um pouco. Ele é superatencioso aos detalhes. Às vezes, a gente está conversando e o assunto morre, mas depois ele consegue voltar ao mesmo ponto, sem dificuldade alguma”, continua a estudante.
Ela disse também que ele age de maneira muito lógica, sem se preocupar com opiniões alheias:
ele é muito empático, ele brinca muito e se dá bem com todas as pessoas ao redor, todo mundo que eu conheci elogia ele (a moça da pizza e o síndico por exemplo)
minha família adora o jeito dele e por mais estranhos q eles sejam, ele se dá superbem com todo mundo— Lana (cecilia) Banana (@cecyclonada) 25 de novembro de 2019
Ele não se preocupa muito com o que as pessoas pensam sobre. Se está tocando uma música no shopping e ele quer dançar, ele dança. Ele tem um bom processamento visual e verbal, e é muito honesto. Talvez isso, para algumas pessoas, seja um defeito, ele fala tudo ‘na lata’.
A jovem conta que esse relacionamento é muito diferente dos anteriores, porque ela não está no centro das atenções, e precisa estar sempre alerta para oferecer o seu melhor quando Vittor tiver alguma crise:
“Eu sempre estava acostumada a ser o centro das atenções nas relações que eu tinha, o que não é o caso agora. Eu nunca sei quando ele vai ter uma crise de ansiedade, então preciso estar atenta. Outra diferença é que ele se importa mais do que o normal. Ele se preocupa mais que todo mundo, tem uma necessidade maior de estar perto que outras pessoas com que tenho relações sociais.”
Apesar das grandes diferenças e dificuldades, Ana diz que eles sempre conseguem se resolver.
“Muitas vezes, ele não entende o que eu falo, e isso me deixa um pouco nervosa, porque tenho que explicar várias vezes, mas a gente vai levando, acaba que tenho que ter mais paciência.”
ele chora na mesma facilidade que uma adolescente emotiva de tpm
(chorando pelo presente de natal q eu dei ele) pic.twitter.com/5fdiAA9ong— Lana (cecilia) Banana (@cecyclonada) 26 de novembro de 2019
Para o jovem de 19 anos, essa também é uma experiência diferente.
Vittor só foi diagnosticado com a síndrome de Aspergers, grau de autismo considerado leve, neste ano.
Sobre o início da relação com Ana, ele disse ao BHAZ: “Ela me mandou mensagem e começamos a conversar, mas acabamos nos afastando depois de um tempo. Acho que, algumas semanas depois, voltamos a conversar e dessa vez decidimos nos encontrar, e foi assim que começou.”
Elogia muito a namorada, dizendo que é companheira e sempre preocupada com o seu bem: “Ela é sensacional, sempre me trata bem, e entende todas as minhas dificuldades, pesquisando sobre o assunto ou até simplesmente me perguntando, ela é muito empática, e sempre quer meu bem.”
e eu q obriguei meu namroado a tirar foto com a maisinha pra ter os dois amores de minha vida numa foto pic.twitter.com/qJ2hKrezRb
— Lana (cecilia) Banana (@cecyclonada) 26 de novembro de 2019
É claro que nem sempre eles conseguem entender um ao outro cem por cento, mas o autoconhecimento ajuda muito essa relação.
Posso não entender algo que ela diz ou sente, o que gera algumas dificuldades, mas, na maioria das vezes, é normal. Com os anos, eu aprendi a lidar com as minhas dificuldades sem nem saber que tinha TEA, mas quando descobri, foi muito mais fácil de melhorá-las objetivamente, o que ajudou muito no relacionamento.
Algumas situações podem ser criadas devido à dificuldade do jovem de entender alguns comportamentos. “Os maiores desafios são entender emoções, expressões faciais e até sarcasmo. Às vezes, uma brincadeira pode ser levada muito a sério e causar uma discussão simplesmente porque eu interpretei algo errado, mas nada que uma conversa não resolva.”
No entanto, o relacionamento dos dois está indo muito bem e eles conseguem se entender – e se gostar –, apesar de serem muito diferentes um do outro.
Em uma publicação no Twitter, Vittor disse que começará a gravar vídeos periódicos para falar mais sobre o tema:
Um recado pra vcs pic.twitter.com/4EaVKMlAOV
— vittinho do sus ? (@VittorGuidoni) 20 de novembro de 2019
Que história mais linda, não é? Esse é mais um exemplo de que as pessoas autistas não devem ser temidas e excluídas, elas são tão especiais quanto qualquer um de nós e merecem respeito e admiração.
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Texto escrito com exclusividade para o site O Amor. É proibida a divulgação deste material em páginas comerciais, seja em forma de texto, vídeo ou imagem, mesmo com os devidos créditos. Direitos autorais da imagem de capa: Ana Cecília Soares/arquivo pessoal.