Quando era só uma menina, disseram-me que eu tinha que ir ao catecismo. Não entendia bem o que aquilo significava, mas, minha mãe dizia que era importante e que criança tinha que fazer catecismo.
Assistia à aula da catequese e, na saída, ela me esperava para assistir a missa dominical.
A missa de uma hora parecia não terminar nunca e eu, no auge dos meus oito anos, me distraía olhando tudo à minha volta.
Gostava de escorregar meu pelo banco até que meus pequenos pés tocassem o chão.
– Naaane, presta atenção e pare de pensar na morte da bezerra, menina!
Mãe me olhava de canto de olho e eu sossegava, como ela dizia.
E a gente cantava, cantava:
“Hosana, Hosana, Hosana nas alturas…”, “ Paz, paz de Cristo, paz, paz que vem do amor…”
De cantar, eu gostava!
A missa terminava e a gente passava na feira, comprava laranjas e, enquanto ela apertava os tomates, alguém me oferecia um pedacinho de fruta:
– Vai uma mexerica para menina aí, Dona?
E lá ia eu mastigando e colecionando pedaços de tudo o que me era oferecido.
E na semana Santa? Ah, minha preferida!
Nunca entendi bem o fascínio que as procissões exerciam sobre mim.
Ficava impressionada com aquele cortejo de gente com vela na mão, cantando num só coro tudo o que eu cantava nos domingos comuns. A gente ia passando pelas ruas do bairro e ia juntando gente. A imagem de Santa Catarina lá em cima grandona – ao menos para mim que era pequenina – ia abençoando todo mundo. Era um mundaréu de gente. E eu amava aquilo! Só não gostava muito de benzedeira. Sei lá, ela “batia” aquele galho de arruda na minha cabeça e ia falando umas coisas que eu não entendia. Na verdade, achava que ela podia ler meus pensamentos e que talvez pudesse descobrir alguma travessura “grave” que eu pudesse ter cometido, mesmo com oito anos de idade…
O tempo passou e eu também passei por muitas coisas.
Mãe não teve tempo de ir à minha primeira comunhão, Teve que partir antes da grande festa, mas eu segui o sonho dela. Casei-me e batizei meus meninos. Refleti sobre religiões E assim como quase todos nós, li, mudei, voltei e, num conjunto de crenças que, para mim, hoje fazem sentido, eu encontrei a minha paz
Questionei, confesso, se devia levar meus meninos à missa ou a qualquer outro ritual. Tão pequenos? Vão entender? Pensava eu. E refleti que, ainda que não entendam agora,
Talvez um dia, mesmo que escolham outros caminhos, tenham lindas recordações como as que tenho hoje.
E assim, sigo conversando com meu santinho de devoção, benzendo meus meninos, pedindo conselhos à santinha que mora na minha cozinha e…
– Senta direito, Davi! – Olhando meu caçula de canto de olho, enquanto, sentado, ele escorrega o corpinho no banco da igreja.