Não dá para parar o tempo, sequestrá-lo e pedirmos como resgate mais prazo, porque nós é quem somos seus reféns, pensamos que o temos nas mãos, mas ele nos tem aos seus pés.

O que é o tempo? Podemos defini-lo como passado, presente e futuro, podemos demarcá-lo como ontem, agora, amanhã… mas, se quisermos simplificar, podemos nomeá-lo como o relógio da vida, aquele que condiciona os ponteiros da nossa história.

Sei que o tempo, às vezes, colore; às vezes, escurece, mas nunca para; sei também que é cruel porque esperamos por ele, mas ele não nos espera, impacientemente cochicha em nosso ouvido: “tique-taque… tique-taque” e nos faz ter pressa.

Passam-se dias, passam-se os meses e até anos e o tempo rouba de nós o nosso passado, mas nos presenteia com as lembranças, e nos faz acreditar que a cada ano envelhecemos um pouco mais: as marcas no rosto e a bagagem um pouco mais cheia de histórias, de memórias e de pessoas não o deixam mentir. Envelhecer nada mais é do que aceitar que o tempo tem cada vez mais de nós e nós cada vez menos dele.

Prazos? Nada mais são do que metas do tempo. Todo o prazo se esgota, e muitas vezes, rápido demais porque o tempo é como um trem veloz que não faz parada.

Por isso, se me perguntarem: qual é o melhor tempo? Direi com toda a certeza que é aquele que estou tecendo: o agora, simplesmente porque é o único que tenho.

Percebo que o tempo me escreve e eu me escrevo no tempo como se tivéssemos uma relação muito íntima, mas, como todos bons amigos, às vezes brigamos: peço que tenha calma, mas ele tapa os ouvidos e finge não me ouvir. Faço as pazes com ele, porque, afinal, ele precisa continuar escrevendo minhas histórias e demarcando meus limites em seus ponteiros.

O tempo não voa, nós é que voamos nas asas do tempo e nos perdemos em suas fronteiras, feito crianças divagamos: estamos no presente, mas nos esquecemos, e acabamos transitando entre o passado e o futuro e as tessituras do agora, muitas vezes, ficam esquecidas, só serão lembradas quando forem um passado que podíamos ter aproveitado mais.

Sempre queremos mais do tempo: mais tempo, mais prazos, mais vida, mas, como um menino levado, ele zomba de nossos sonhos porque certas coisas são impossíveis.

Não dá para parar o tempo, sequestrá-lo e pedirmos como resgate mais prazo, porque nós é quem somos seus reféns, pensamos que o temos nas mãos, mas ele nos tem aos seus pés.

Não sei qual foi a última vez que me encontrei com o tempo… acho que foi a última vez que olhei no relógio e percebi que, insistentemente, ele continua mudando os ponteiros. Percebo que não tem acordo, o único jeito é seguir o ritmo do tempo e caminhar como seus ponteiros. Então, fatio o meu tempo e a melhor fração dele é a que divido com as pessoas certas: em momento como os que paramos para ouvir os silêncios, sentir as palavras, cantar sem notas e partilhar um pouco dos nossos minutos com aqueles e aquilo que nos dá a certeza de que o tempo está sendo bem aproveitado porque os segundos se tornam tão bonitos que ficam congelados em nossas memórias.

Eu, pacientemente, sento ao lado do tempo e vou lhe ditando as palavras que ele vai escrevendo na medida em que seus ponteiros continuam tiquetaqueando e me fazendo lembrar que sua velocidade é constante e a sua característica mais marcante é ser implacável!

Por isso, o ontem, o agora, o amanhã são simples fatias que nada mais são do que histórias do tempo: algumas já contadas e outras aguardando para serem escritas…

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Direitos autorais da imagem de capa: prakobkit / 123RF Imagens

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Patrícia Regina de Souza
Licenciada em pedagogia e mestranda em educação, ambas pela FCT/UNESP. Ama animais, livros, doces, amigos, família e, acima de tudo, acredita em Deus... Gosta de se aventurar pelos caminhos da escrita porque tem paixão pelas palavras! Acredita que as palavras são tão preciosas porque nos fazem refletir, pensar sobre a vida e o mundo e, muitas vezes, têm o poder de transformar concepções, mudar práticas, ou seja, podem ser o caminho para a transformação do mundo. Escreve porque gosta, mas, quem sabe, escrevendo também possa contribuir para que as mudanças necessárias venham a ocorrer!

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