Conversar por entrelinhas, esbanjar sabedorias através de pseudônimos inusitados, abraçar causas ativistas, trazer de volta exilados por meio de  protestos em forma de canção… onde foi parar essa nossa geração?

Pensadores, criadores, animadores de uma revolução! Pais e filhos se misturavam, era comum se viver com respeito na geração que nos antecedia, cantávamos músicas da época dos nossos pais, refletíamos nas letras daqueles que sabiam escrever.

De repente, nós nos damos conta de que  trocaram os grandes poemas por versos desguarnecidos, entornados de repetições que não dizem nada, que não mudam nada, que refletem o nada no balanço das nádegas.

Acabaram os grandes mergulhos… viramos somente poças d´águas!

Estamos na era da foto com movimento, biquinhos avantajados que se mexem de um lado para outro abanando um complexo ritual de beleza escravizador, que satisfaz, talvez,  por um átimo de segundo, mas que por sua vez leva a vítima a uma completa ausência de saciedade: Você nunca estará bem o suficiente!

A dança, que outrora inspirava sensualidade e beleza ao se apreciar, com seus passos longos e harmonizados com a expressão facial, foi reduzida para um grupo muscular: os quadris. Seja mulher ou seja homem, não é preciso muitos detalhes, vale até segurar numa cadeira que a protagonista da história faz o seu show.

Mas para onde migraram, definitivamente, os nossos pássaros? Os nossos voos na consciência humana, mostrando a irreverência transvestida em um ideal. Será que não voltam mais?

É inacreditável como cresce o número de pessoas ansiosas e depressivas no mundo. Em meio a tanta liberdade, parece que não se sabe para onde ir, a quem recorrer e com quem conversar. Tornamo-nos zumbis solitários e adormecemos no túmulo da nossa desesperança. Antes de dormir, nada como um “redondinho” para dar uma ajudinha e  acalentar a nossa noite. E a madrugada que antes era boêmia e regada a gargalhadas,  hoje é acompanhada pela sinfonia do toque nos teclados do computador.

A nave migratória levou embora  não só os nossos pássaros,  mas também  as sementes que se plantou!

Deparamo-nos o tempo inteiro remexendo os nossos baús, revirando as nossas fotografias, resgatando memórias da época em que sentávamos com os amigos, simplesmente para conversar. Por que será que buscamos coisas tão simples,  se vivemos num mundo tão moderno? Será que não temos uma essência humana tecnológica? Será que a nossa molécula de felicidade é composta por átomos que não encontramos no mundo atual?

Definitivamente, precisamos fazer nascer as sementes plantadas no solo da nossa existência. É uma questão de sobrevivência! Já não basta somente lamentarmos o leite derramado e passarmos o tempo inteiro comentando como seria bom se ainda fosse daquele jeito.

Precisamos repetir o voo dos pássaros que nos influenciaram a ser do jeito que sonhamos viver.

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Direitos autorais da imagem de capa: mycteria / 123RF Imagens

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Rosana Bouleh
Rosana Bouleh, baiana, cosmopolita, formada em Letras e Direito, advogada no âmbito luso-brasileiro, nem sempre jurídica, mas sempre mergulhada nas letras... nos versos, textos e poesias! Apaixonada pelo comportamento humano, sou intensa quando falo de amor nos seus diversos formatos, extremamente taurina quando defendo um ideal e completamente apegada a todas as coisas que somente a alma pode tocar! - Instagram: @rosanablb

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