A repetição na vida (e na clínica terapêutica):


A terminologia repetição e o aprofundamento desse estudo surge na Psicologia e na psicanálise através de Sigmund Freud. Em 1920, na obra “Para além do princípio do prazer”, ele cria e aprofunda uma correlação da repetição à compulsão.
Esse tipo de “engrenagem de funcionamento” está presente em nossas vidas, desde que nascemos e a todo momento; e pode ser algo normal e construtivo- em termos de proteção e sobrevivência; quando não está diretamente associado a determinados padrões patológicos (os quais não vou aprofundar aqui).
É a repetição que nos dá a possibilidade de associar, editar e reeditar circunstâncias (fatos, resultados) e de evoluir, enquanto desenvolvemos uma espécie de protótipo de ação e defesa; e uma elaboração psíquica para a conduta.
A jovem na torre onde ninguém podia entrar…
As pessoas mais fortes são aquelas que se permitem sofrer!
É comum observar esse fenômeno nas crianças, que assistem e ouvem uma mesma música/história sem cansaço algum por horas, dias, semanas; e gostam do conforto daquilo que já é conhecido. Do mesmo modo que vivem e revivem a situação com as mesmas reações, ensaiam e fortalecem dentro de si, novas possibilidades de resposta, com a iminência de saírem da zona de conforto e passarem a enfrentar novos desafios e outras situações e contextos.
É a repetição que permite a criação da estrutura que alicerça a vida psíquica e que pode transformar todo o conteúdo já conhecido em algo novo, de fato.
Mas ao mesmo tempo, é a repetição que pode aprisionar ao que é limitante, obsoleto; e ao lidarmos com diferentes fatos, em diferentes momentos, com o mesmo repertório e sem novos recursos, é como se fôssemos para uma luta armada em 2017, com as armas usadas numa batalha de sucesso, de 1900.
Freud relaciona a compulsão com a repetição para explicar que “essa escolha/ impasse” acontece num processo inconsciente. Talvez não seja tão nítido assim…. mas é como viver ensaiando (mesmo sem querer!) um novo aprendizado que nunca chega.
Enquanto não aprendermos a lição, de modo confortável e resolvido… sim! Essa lição voltará (e não tem nada de místico, ou de uma obra vingativa do destino nisso). Enquanto estivermos alimentando nossa criança interna diante da mesmice, que paralisa frente ao que já é conhecido, sem arriscar; é ali que permaneceremos. Por várias vezes, situações, pessoas e circunstâncias. Deixaremos a riqueza da transmutação de nosso interior cristalizado, perpetuado no que foi um dia funcional.
É um ensaio inconsciente querendo fazer diferente; mas que na prática não realiza.
É como se a pessoa estivesse paralisada, revivendo aquele ciclo, e ficasse tentando compreender o acontecimento ou sofrimento (de novo essa situação? O que aprendi com isso? Por que comigo? Ou como se a rigidez que aprisiona não permitisse enxergar o que pode ser ainda melhor- por ser diferente: fiz tão bem, agi tão corretamente, estou satisfeito comigo. Não preciso mudar! E enquanto não muda, não evolui!)
Uma armadilha da mente para que tudo seja associado (evento- reação- sentimento/ consequência) de mesma forma, sob o mesmo prisma. E essa inquietação não se resolve enquanto não se dá o próximo passo. Com ousadia e preparo. Isso é a explicação mais psicológica que eu poderia dar sobre o que é conhecido como zona de conforto.
É inconsciente; mas é seu. É uma estada demorada (e não uma visita rápida) no sofrimento ou na sensação ligados a uma espécie de marca ou até trauma. Mas pode tornar-se consciente; e é passível de mudança a partir daí, na medida em que refletimos com verdade sobre nossos objetivos e padrões de comportamento.
Já pensou que há padrões que se repetem em você (às vezes por gerações e gerações)? O mesmo tipo de chefe, a mesma dificuldade com a equipe e colegas, a mesma falta de entendimento, comunicação… os mesmos problemas, em diferentes contextos/ situações. O mesmo tipo de relacionamento, de amigos, de desafios, de “facilidades”, que não te permitem desafiar-se ao melhor. Já pensou que a mesmice é uma espécie de autossabotagem? É a conveniência da mediocridade; é a compulsão por se sair bem; mesmo sem refletir se esse “ir levando a vida” é realmente estar bem.
Será que aquilo que você acredita ser uma escolha, não tem sido sua zona de conforto e a repetição que não para de acontecer em sua vida?
Por expectativas que não são suas, sonhos que nem foram sonhados por você, necessidades que foram encontradas no meio do caminho e agora precisam ser sanadas.
Como você tem lidado com crenças que são limitantes (impostas e pré-existentes desde sua configuração familiar, sua criação, modelos de sucesso e fracasso, etc)- que não te deixam perceber o novo e nem evoluir?
Será que tem feito essa reflexão com a maturidade e autorresponsabilidade que lhe cabe?
Já pensou que pode reorientar sua vida ao novo e realmente desejado? Que pode desejar algo novamente, ao invés de só sobreviver?
Você pode tornar-se mais consciente de si e romper com todos os padrões de sofrimento e todas suas memórias de dor!
Há muitas técnicas e caminhos para trazer à tona questões inconscientes e desarmar atitudes que bloqueiam o despertar de si; seja por meio da psicologia psicanalítica ou de várias alternativas, orientações e práticas de self healing!
Vamos juntos rumo à nossa evolução!? Pense sobre tudo isso. Mas saia da zona do pensamento (e da repetição)! Seja sua ajuda sincera; e busque ajuda, se necessário.
(Todo processo que mexa em sua estrutura psíquica e aparato psicológico, de dentro pra fora- de modo sistemático, com precisão técnica e científica; não pode ser chamado de Coaching!
Cuidado. O profissional Coach não é habilitado a desenvolver técnicas clínicas e psicoterapêuticas do profissional Psicólogo. Muito menos diagnosticar ou acompanhar psicopatologias ou transtornos de ordem psicológica.
O processo de Coach estabelece metas claras e faz um acompanhamento dessas metas, focando em resultados. É um trabalho pontual e pode ser muito funcional para questões específicas- sendo coaching e não terapia).

Luciana Grandin
Psicóloga. Especialista em Gestão de Pessoas/ Adm de RH e Gerenciamento do Stress. Assessoria individual e empresarial. Mãe. Mulher sonhadora;...
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