Onde vai parar toda a nossa pressa? – Um dia nos veremos caminhando devagar… sem pressa.
As urgências do nosso cotidiano exige cada vez mais pressa. Nossos pensamentos estão acelerados, nossos passos tropeçam no dia e quando percebemos, já é noite. E aqueles diálogos que eram para hoje sempre ficam para amanhã.
Mas o amanhã logo chega e já se torna o “hoje” novamente. Confuso, não é mesmo?
Nós é que estamos confusos diante dessa pressa de viver o futuro. Estamos sempre querendo chegar a algum lugar. Fazemos mil planos acreditando que esse “lugar” é o melhor para nós.
Como podemos saber se ainda não o alcançamos? E se é realmente bom, porque ao chegarmos nesse tal “lugar”, ainda buscamos por outro?
Não falo de sonhos. Sonhos são bons. Realizá-los é melhor ainda e devemos mesmo lutar pelos nossos ideais. Falo de excessos. Os excessos que nos cegam e não nos permite enxergar o outro e a nós mesmos. Os excessos que encurtam o nosso tempo.
E por falar em tempo… estamos sempre sem tempo por querer fazer mil coisas de uma só vez.
E numa destas manhãs (sem tempo e cheia de tarefas) saí apressada para o trabalho. Numa ruazinha estreita, parei o carro, pois me deparei com um senhor, aparentando ter pouco mais de 70 anos. Ele andava no meio da rua, olhando distraído para as casas altas da rua.
Olhava-as como se fosse a primeira vez. E quando estamos apressados e atrasados, somos tomados por uma impaciência incomum no trânsito. A minha mão coçou de vontade de tocar a buzina, mas ainda bem que voltei a mim. Respeitei o tempo daquele senhor. E ele parecia ser o próprio dono do tempo.
Eu fiquei observando até onde iríamos naquela situação. Eu com muita pressa e ele sem nenhuma.
Eu comecei a segui-lo de carro, mas o motor quase não fazia barulho de tão lento que estava. Ele não me percebeu! Ele estava bloqueando o meu caminho e nem se dava conta. Mas eu não estava atrapalhando o caminho de ninguém, pois éramos só nós. Eu e ele. Assim pude observá-lo um pouquinho mais.
Aos olhos de outra pessoa, aquele senhor seria apenas um idoso distraído. Mas ao meu olhar, ele era um homem que reaprendeu a caminhar devagar.
E descobri naquele exato momento, numa cena simples do cotidiano, aonde vai parar toda a nossa pressa.
Sim, amigos, ela um dia se esbarra no “avançar da nossa idade”. E a pressa deixa de “ter pressa”. É como se as coisas deixassem de ter urgência, porque cada minuto do tempo passa a ter um novo significado. Olhar as casas de uma rua passa a ser deslumbrante. É um tempo de lentidão, onde se começa a enxergar as coisas belas da vida que antes não tínhamos tempo de enxergar. Um tempo em que se pode parar para escutar o canto de um pássaro, saborear o prato de sempre, mas só então descobrir o seu sabor. É um tempo que não teremos tempo para excessos. Um tempo onde não se tem vontade ou necessidade de correr, de chegar a lugar algum. O “chegar” já não importa. O importante mesmo é o “estar”.
Eu não podia ficar atrás daquele senhor por mais nem um minuto. (Tem momentos que a pressa é necessária quando se trata de pontualidade).
Buzinei de leve. Ele ouviu de imediato. Foi para a calçada e fazendo “um joia” com o dedo me disse “obrigado moça”!