Sou apreciadora das sensações que pequenas ações do cotidiano nos enviam como aprendizado. Com sutileza no ouvir e sentir, é possível manter um campo aberto para as experiências, expandir conhecimentos e abertura para o novo.
Certo dia, uma vizinha muito amiga me pediu que olhasse seu cachorro, pois ela tinha medo de chuvas, trovoadas e aquela tarde havia chovido bastante. De fato, ela acertou. Bem acuada, em um cantinho da sala, procurei acariciá-la e, com isso, acalmá-la. Este momento possibilitou que parasse de cumprir tantas tarefas e acionar algo tão valoroso hoje em dia! Parar e contemplar e este momento de calma me fez perceber, olhando para a janela que estava aberta, uma sensação diferente. O que seria muito comum, afinal, era apenas uma janela aberta, mas olhando com os sentidos mais apurados que aquela situação me proporcionou pude perceber a beleza do instante.
Moro no sexto andar e ela no décimo terceiro, mas em direções opostas do prédio. E este simples momento me levou à reflexão da importância de apurarmos o olhar para obter outra visão.
A paisagem era linda, ampla, com aspectos diferentes e únicos, que somente naquele momento pude absorver tantos contrastes de olhares de um mesmo local, mas por proporções diferentes e a pensar em como essa distância e diferenciação de olhar impacta nas percepções, sensações e em nosso agir.
Estamos na era digital. A tecnologia veio para ficar e facilitar, mas leva nossos sentidos. Tudo é rápido e instantâneo, inclusive nossas opiniões, criando uma urgência no falar, opinar e pontuar posturas, sem nos darmos conta do outro.
O sentir, empatizar, antes de qualquer ação, passa despercebido, tamanha urgência, e nossos sentidos são estranhamente perdidos.
Parar, olhar, perceber, contemplar, sentir e agir de uma forma que impacte positivamente está cada vez mais raro – experiências que nos moldam como humanos que somos, apesar de tanta tecnologia, que veio para facilitar e não para nos levar o que somente o ser humano é capaz: o sentir, o olhar, experienciar e amar.
O ser humano é cíclico. Muitas vezes precisa ir longe para entender o que faz sentido. Em contato com tanta novidade que a tecnologia nos trouxe e a urgência de estarmos conectados, desconectamos de nossos valores mais apurados.
É tempo de resgatar nossa essência para que nos relacionemos ainda como humanos valorosos e amáveis que podemos ser, tomando tempo e observação de nossas próprias ações.
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